Paulo AmaralOscar 2023 domingo 20h HBOMAX (TNT)
Para todo fã de cinema, até mesmo o fã eventual, é inegável que vez ou outra demonstremos um maior apreço ao Oscar, como se fosse o maior dos louros que uma obra da sétima arte pode levar. Falácia boba, mas interessante. Porém isso fica no campo bom das conversas antes da premiação, fica para as apostas e de fato não determina se uma produção é melhor ou não que as outras. Vale dizer que há festivais importantíssimos pelo planeta inteiro agraciando filmes que o próprio Oscar esnobou, ou que sequer viria a se lembrar, aqui mesmo no Brasil são incontáveis os festivais. Para enumerar alguns: Festival de Brasília, Festival de Cinema de Gramado, Festival Internacional do Rio, a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Um filme premiado, seja qual for a gratificação, ganha um status diferenciado, flerta com um olhar mais atencioso de certa parte do público.
E, neste próximo domingo, dia 12, acontece o tão aguardado Oscar 2023. A célebre premiação chega à sua 95ª edição. Neste ano, tivemos muito filmes interessantes e obras que podem sim marcar o ano de 2022 do cinema. Aqui mesmo na Hybrido estamos com várias resenhas. A associação americana, AMPAS, é a responsável pelo troféu e pela votação. Ela conta com 10.000 membros. No intuito de direcionar mais seus espectadores, refinando o produto e aumentando a audiência, o Oscar vai ser transmitido – desde 2 horas antes da entrega das estatuetas (20h) – inteiramente no serviço de streaming da HBOMAX. Fato que deve tornar o evento mais ágil e atraente.
Há aqueles que já estão ansiosos pelos prêmios de domingo à noite. Fatalmente, estes já estão com suas apostas bem definidas. Faremos uma live de apostas em nossas redes. “Tudo em todo lugar ao mesmo tempo”, o ator “Ke Huy Quan”, “Nada de novo no Front”, “Pinocchio”, “Top Gun: Maverick” são alguns dos que devem – de certa forma – brilhar no evento deste dia 12.
Mas uma coisa tem despertado curiosidade nestes dias que antecedem o Oscar 2023. E isso se dá mais especificamente na categoria que podemos considerar a mais acirrada do evento: a de Melhor Atriz. E esta espécie de polêmica se passa com as duas favoritas da noite, das casas de apostas, da imprensa e isso se dá também pelos troféus que elas ganharam nesta temporada de premiações até aqui. Estamos falando de Michelle Yeoh e de Cate Blanchett. O confronto agora está mais gritante do que a disputa pelo prêmio de Melhor Filme.
A tal polêmica
No último dia 6 de março, em seu instagram, Michelle Yeoh compartilhou um fragmento de texto da jornalista Radhika Seth, da revista Vogue, que dizia: “Faz mais de duas décadas desde que tivemos uma vencedora de Melhor Atriz não-branca. Isso mudará em 2023?”, no caso, a última foi Halle Berry, por “A última Ceia” (EUA, 2001). Lembrando que as duas gigantes atrizes são bastante amigas e que a todo tempo (e premiações) vêm se elogiando muito, mas que a postagem de Michelle não foi de fato bem vista no meio. Se isso prejudicaria a amizade das duas, apenas no dia 12 poderemos saber. Até no próprio discurso de vencedora, o suposto embate poderia já ser aniquilado.
A postagem de Michelle teria um valor maior a essa altura, caso não quebrasse regras do Oscar. Ela enaltece obviamente a importância inclusiva na premiação, defendendo sua vitória, ainda mais pelo fato de ser uma atriz asiática, nascida na Malásia. E ela continua em seu post: “isso não é apenas para mim , isso é para cada garotinha que se parece comigo… Queremos ser vistos. Queremos ser ouvidos”. Mas, ao fazer isso, Michelle está tecendo algum tipo de crítica a uma rival direta de categoria, no caso Cate Blanchett, o que é rigorosamente proibido pela Academia. Mais especificamente nas regras 11a e 11b do livro de Conjunto de Regras da Academia. Estas regras valem apenas para quem tem o envolvimento direto com a obra. Obviamente público e imprensa podem fazer qualquer tipo de engajamento que quiserem a favor do seu filme mais estimado. E é claro que a atriz de “Tudo em todo lugar ao mesmo tempo” apagou o compartilhamento horas depois. Muitos seguidores chegaram a fazer o alerta a ela.
O que pesa contra Michelle no tal post são os argumentos da jornalista da Vogue. Mesmo que válidos, eles se apresentariam como “qualquer tática que destaque ‘a competição’ por nome ou título” e isso não pode. Radhika Seth fala em seu texto algo que podemos até imaginar: qual seria a necessidade de premiarmos Cate mais uma vez, tendo em vista que a australiana já levou duas estatuetas para casa: Melhor Atriz por “Blue Jasmine” (EUA 2014) e Melhor Atriz Coadjuvante em “O Aviador” (EUA, 2005).
Algo interessante de se destacar nisso tudo é que Michelle posta tal conteúdo 5 horas antes do encerramento da votação dos 10.000 membros, no último dia 7 de março, o que pode atestar a suposta irregularidade. Mas seria muito difícil que alguém ainda não decidido naquelas últimas horas entrasse nas redes sociais da atriz asiática e aí sim, vendo o compartilhamento, alteraria seu voto. Isso advoga em favor de Michelle, mostrando uma possível boa fé. Os votantes já deveriam até mesmo ter enviado seus votos.
Até este momento, a Academia não abriu nenhum tipo de investigação contra a atriz asiática. As regras estão cada vez mais rigorosas, tendo em vista que esse tipo de violação era muito comum no meio na década de 90. Muitas vezes por parte de produtores. Produtores como o assediador Harvey Weinstein que diminuíam publicamente as obras que rivalizavam com as suas. Harvey fez isso com Gwyneth Paltrow por “Shakespeare Apaixonado” (1998). Ela vence Meryl Streep por “Um Amor Verdadeiro”, vence a própria Cate Blanchett por “Elizabeth” e bate a nossa amada Fernanda Montenegro em “Central do Brasil”. O sujeito ainda realizou a proeza de publicar propagandas negativas de “Resgate do soldado Ryan”, conseguindo assim fazer o comum “Shakespeare Apaixonado” vencedor de Melhor Filme daquela noite desastrosa no ano de 1999.
Cate Blanchett concorre por “Tár” e ela interpreta Lydia Tár, um dos maiores Maestros da Terra (ela se chama de Maestro). Blanchett mergulha – talvez – em seu melhor papel na carreira, dando vida a um personagem que vai te enganar absurdamente ao final da obra. Ela eleva o pior traço de realidade possível à artista, sendo muito tóxica, não tendo escrúpulos, narcisa num grau elevadíssimo e, assim, faz você até ter medo de cruzar o caminho dela. Michelle Yeoh é uma imigrante chinesa, dona de uma lavanderia que precisa se ajustar com a Receita Federal urgentemente em “Tudo em todo lugar ao mesmo tempo”. Ela está imersa numa fantasia frenética de vários universos e que, ao mesmo tempo que precisa quitar seus débitos com o governo americano, ela sofre com inúmeros problemas envolvendo a loja, o pai, a filha, o marido, a língua inglesa, sua existência. De verdade, as duas atrizes estão notáveis e excelentes em seus papeis. Veremos domingo como termina a noite e a tal polêmica.