Parece até meio clichê que sempre que chegamos próximos de 11 de setembro role aquele papo: todo mundo lembra onde estava naquele dia. E para a maioria das pessoas é a pura verdade. Eu consigo me lembrar até hoje de estar chegando em casa após o curso de inglês e a minha mãe correr para abrir o portão de casa, dizendo que “um avião bateu na torre nos EUA. Corre!”. Lembro também de quando estava me preparando para tomar banho e ir para o colégio e escutar ela dizer um “MEU DEUS” bem alto. Saí correndo e botando a bermuda de volta e quando cheguei, a segunda torre do World Trade Center já havia caído. No colégio só se falava nisso. Toda hora alguém trazia o papo de que George W. Bush se preparava para anunciar a Terceira Guerra Mundial. Crianças de 12, 13 anos estavam discutindo geografia política. O mundo nunca mais seria o mesmo.
E não foi. O atentado terrorista que matou mais de três mil pessoas e atingiu em cheio o coração de Nova Iorque e o prédio símbolo do poderio militar e tático na capital americana, o Pentágono, mudou o mundo naquela manhã de terça-feira. Os ataques e a guerra ao terror americana ressoam até hoje e ainda estão vivos, vide a crise recente no Afeganistão.
Essa mudança se refletiu também no cinema e na TV. Seriados como 24 Horas e os rumos de Jack Bauer na história são produtos diretos da paranoia americana pós-11/9. Filmes de ação e espionagem voltaram sua atenção majoritariamente para o (não tão) novo inimigo comum: o Oriente Médio. Assim como ganharam foco na vigilância total do governo americano sobre todo mundo, terrorista ou não. Foram produzidos ainda inúmeros filmes sobre as novas guerras, Afeganistão e Iraque, com foco principalmente nas consequências dos conflitos para os soldados, papel que quase sempre ficava com os filmes da Guerra do Vietnã. É um olhar cínico, debochado e crítico. Uma visão contracultural do serviço militar de revanchismo contra aqueles que feriram o solo americano.
Pensando nisso, preparei uma lista de 20 filmes para entender o contexto pré, durante e pós o 11 de setembro de 2001.
Pré 11/9:
Sem ligação direta com os eventos do 11 de setembro, o filme mostra três soldados americanos na Guerra do Golfo, atrás do ouro que Saddam Hussein roubou do Kwait. Serve para entendermos o movimento cíclico da política militar americana, seus apoiadores no Oriente Médio na época e um pouco sobre as ações do pai de George W. Bush.
Parte biografia, parte um resumo das ações de George W. Bush na presidência, o filme do sempre contestador Oliver Stone pode não ser dos melhores na carreira do diretor, mas traz um elenco afiado, excelentes caracterizações e uma crítica aos Bush (pai e filho).
Adam McKay volta os holofotes para Dick Cheney, vice-presidente de George W. Bush, e tido por muitos como quem realmente mandava nos EUA na época e o responsável pela guerra ao terror e as mudanças que permanecem até no país hoje. O filme tem o tom de comédia satírica típica do diretor e o teor crítico que vimos em A Grande Aposta. Christian Bale arrebenta como Cheney.
Durante o 11/9:
Oliver Stone deixa o tom crítico de lado para contar a história de sobrevivência de dois oficiais da Polícia Portuária de NY, presos nos escombros do World Trade Center. O início do filme é incrível, com os oficiais respondendo ao chamado, entrando no prédio e a recriação do desabamento. Um drama que tenta mostrar o melhor das pessoas em meio ao terror e com Nicolas Cage ainda.
Paul Greengrass tem um estilo próprio de filmar. Transformou o cinema de ação com seus Bourne e no meio do caminho filmou a história do único avião do 11/9 que não chegou ao alvo. Utilizando atores desconhecidos e uma fotografia documental, o diretor cria um drama sólido e urgente, uma bomba relógio que sabemos que vai explodir e mesmo assim, não deixamos de ficar chocados.
Os diretores franceses estavam em NY para mostrar o dia a dia de um novato no Corpo de Bombeiros e acabaram no meio da missão de resgate do 11 de setembro. As imagens do documentário impressionam, com Jules e Gédéon entrando no World Trade Center e filmando tudo de dentro da ação. Impactante.
O documentário acompanha os atentados de 11 de setembro pela ótica de alunos de uma escola pública de prestígio em NY, a Stuyvesant. Com a cidade parada, os pais não conseguindo chegar até os filhos, é interessante acompanhar a reação de crianças e jovens para o momento que mudaria para sempre a vida da cidade que viviam.
Onde e o que faziam os homens mais poderosos dos EUA no 11/9? O documentário acompanha os passos de George W. Bush, viajando no avião presidencial, e Dick Cheney, no bunker da Casa Branca, ao longo de 12 horas. Entrevistas com os próprios e praticamente todo o gabinete de Bush na época, é um filme necessário para entender a urgência dos fatos e a vulnerabilidade americana com a situação.
A série documental de Spike Lee traça um paralelo entre o 11 de setembro e NY se tornando o epicentro dos atentados e a pandemia da COVID-19, em que a cidade foi o maior foco nos EUA. Lee traz um caminhão de depoimentos e imagens de arquivo e conta histórias pouco conhecidas, como a dos resgates de barco, que retiraram meio milhão de pessoas de Manhattan naquela terça-feira.
Inspirado em fatos reais, essa a peça da Broadway foi filmada e lançada em streaming seguindo o sucesso de Hamilton. A obra conta a história de 38 voos que foram forçados a pousar em uma pequena cidade do Canadá no dia 11 de setembro. Fugindo do drama dos ataques, a peça é uma olhar para a solidariedade e a busca por esperança em meio ao Caos.
Pós 11/9:
Uma das imagens mais impactantes do 11 de setembro é a das pessoas pulando das janelas, fugindo desesperadas do fogo que as cercava. Um desses pulos ficou registrado em uma foto que circulou o mundo todo. O documentário britânico procura investiga quem é o homem da foto e sua história. Um retrato sobre as pessoas que viveram aquele dia e o pânico que passaram dentro das torres.
Uma série de 11 curtas sobre histórias do mundo todo envolvendo o 11 de setembro. Entre os diretores, temos Alejandro González Iñarritu, Danis Tanovic, Sean Penn e Ken Loach. Entre as histórias, que mostram de uma professora no Irã explicando o fato para crianças até a história de um senhor vizinho das Terres Gêmeas, a de Ken Loach provoca ao contar o 11 de setembro chileno e o golpe dado por Pinochet, financiado pelos EUA.
Após o 11 de setembro diversos ataques contra muçulmanos aconteceram nos EUA. Um dos “caçadores de árabes”, Mark Stroman matou dois imigrantes (um paquistanês e outro de Bangladesh) e parcialmente cegou um. Condenado a morte pelo crime, Stroman acabou tendo em seus últimos dias, o apoio de uma de suas vítimas, que pedia que a vida dele fosse poupada. Uma crônica sobre o ódio contra imigrantes do Oriente Médio que tomou conta dos americanos.
Michael Moore é um dos mais contundentes documentaristas do cinema atual. Em 2004, ele voltou suas forças para tentar impedir a reeleição de George W. Bush, ridicularizando o presidente, a possível fraude nas eleições que o elegeram e a preocupação com a Guerra no Iraque. Moore mete o dedo na ferida para criticar as atitudes diretamente ligadas ao 11/9 e ligações suspeitas com a família de Osama Bin Laden.
Adam Sandler e Don Cheadle estrelam esse drama que mostra um homem traumatizado pela perda da família nos atentados em NY buscando forças para continuar vivendo. É bacana ver Sandler saindo da zona de conforto e a parceria com Cheadlefunciona. É um retrato das cicatrizes que o 11 de setembro deixou em diversas famílias da cidade e suas consequências.
Um ano após os atentados, Spike Lee mostrou porque é um dos mais relevantes diretores da atualidade, escancarando o inferno social que NY se tornou. O filme conta a história de um traficante em suas últimas horas antes ser preso por sete anos. Em dois momentos, o filme mostra o preconceito e a paranoia que envolveu os habitantes da cidade nos anos que seguiram os ataques. Lee também traz esses comentários em O Plano Perfeito (2006).
Guerra ao Terror ficou mais famoso por ser o filme que derrotou Avatar no Oscar do que por sua história em si. Kathryn Bigelownos coloca no meio da ação na Guerra do Iraque, onde acompanhamos um sargento líder do esquadrão que desarma bombas. A diretora tem total controle da situação caótica e entrega um retrato de como as guerras promovidas por Bush foram nocivas para os próprios americanos.
Após o sucesso de crítica e premiações de Guerra ao Terror, Kathryn Bigelow agora conta a caçada dos EUA ao seu inimigo número um pós-11/9: Osama Bin Laden. A busca pelo terrorista durou mais de 10 anos e a diretora vai nos mostrando todo esse caminho até culminar em uma espetacular sequência que recria a missão que eliminou o terrorista.
O sucesso comercial de Sniper Americano é diretamente influenciado por dois fatores. Primeiro é a tragédia real de um homem que entra para o exército após assistir ao 11/9 na TV e acaba sendo morto por um dos companheiros de farda, traumatizado pela guerra ao terror. O segundo é quem conta: Clint Eastwood ainda é a imagem de um EUA forte, imaculado e que mandava onde queria, fator que os atentados retiraram ao vivo do peito americano.
O filme é um retrato dramático dos traumas da Guerra do Afeganistão, mostrando o retorno de um jovem militar, que foi feito prisioneiro no conflito, para a sua vida de antes. Com ótimas atuações de Tobey Maguire e Jake Gyllenhaal, Entre Irmãos é o tipo de filme que ainda veremos muito sobre os conflitos do Oriente Médio, com soldados psicologicamente afetados e famílias quebradas. Gyllenhaal também estrela o ótimo Soldado Anônimo, de Sam Mendes, dessa vez, na Guerra do Iraque.