“Pig” (2021) de Michael Sarnoski
9.5Pontuação geral
Votação do leitor 4 Votos
9.4

Onde: Cinemas

Nicolas Cage, perdoe este sujeito que escreve aqui. Sua atuação neste tocante e intimista “Pig” é uma das coisas mais singelas e lindas que veremos neste ainda caótico ano. Sua composição de personagem, sua versatilidade para este papel (sim!), sua verdade com um roteiro metalinguístico e sua coragem por fazer um filme que cruza com a vida real de um Cage que busca ares autorais e projetos independentes: é tudo incrível. Acertadamente. Bom para o público.

O diretor e escritor Michael Sarnoski conduz o espectador da forma que queria. Ele controla e sabe bem subverter o tal gênero violento com seu material. Sarnoski nos mostra uma espécie de John Wick da fazenda, um homem com sangue nos olhos para vingar um animalzinho. Algo conhecido? Nada disso. Aí entra sua maestria e o encanto com tudo que se segue quando ele já nos tinha atentos. Seguimos uma trama de redenção, imersão que beira uma lição de vida daquelas que promovem debates acerca de culpa, dor física, existência e resiliência. Uma aula para seu primeiro filme.

Nicolas Cage é Rob, um sujeito que tem todos os motivos para viver isolado no meio do mato, no Oregon. Ele tem apenas a companhia de sua porca exímia farejadora de trufas. Uma amiga deste restrito Rob. Com a venda das trufas para grandes mercados e feiras, ele se mantém. Mas sua porca desaparece e ele inicia uma caçada frenética atrás de seu animal. Cenário e design de produção prontos para o banho de sangue. Nesta odisseia da tal vingança, ele revê sua vida na cidade grande, histórias não terminadas, conflitos de poder, talvez algum acolhimento e aceitação também.

Sarnoski tem em Cage o melhor do real com a ficção. O Rob do filme e o célebre ator ressignificam o termo resiliência da melhor maneira possível. A metalinguagem grita neste filme. Parece que o texto tinha de ser pra Nicolas. O ator encarou muitos filmes nada bem recebidos pela imprensa especializada. Ele tem escolhido produções mais eruditas e autorais. A vida dele se comunica intrinsecamente com o filme.

O vencedor do Oscar por “Despedida em Las Vegas” (1995), de fato um grande ator, marcado em “Arizona Nunca Mais” (1987), “Feitiço da Lua” (1987) e “Adaptação” (2002) sempre vai poder mais. A qualquer tempo. Esse brinde veio em 2021. Fazia tempo que Nic Cage não brilhava. De maneira independente, ele sai de seus vícios faciais, suas muletas e nos emociona a cada segundo desta excelente obra. O rosto dele ensanguentado vai ficar nas suas discussões pós-filme.