Avaliação Hybrido
10Nota do autor
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9.6

Todo novo filme de Clint Eastwood gera suspiros da comunidade cinéfila dada a sua longevidade no cinema com sua vasta filmografia. Aqui em “Cry Macho” o cineasta descumpre a promessa feita após “A Mula” (2018) de que seria seu último filme como ator e nos entrega um lindo trabalho não só na realização como também como protagonista dessa bonita história sobre lealdade, amizade e amor.

O Mike de Clint Eastwood vai para além de um ex-vaqueiro de rodeios e cuidador de animais em busca da redenção, como o título nacional tenta induzir. É um homem conformado com o determinismo do fim de sua triste vida que descobre na energia e no vigor de um jovem mexicano a ser resgatado por ele numa missão no México a pedido de seu pai (e ex-chefe de Mike) em retribuição à toda ajudada dada por este a Mike em sua vida.

Este pagamento de dívida de honra floresce em diversas oportunidades para Mike uns deslumbres de que sempre há saídas para voltar a ser feliz, amado e respeitado, e Clint traz todo o universo que fez parte de sua fama através da cenografia do western (através do protagonista) e da narrativa do thriller policial (a fuga da polícia e dos capangas da mãe do garoto) enquanto uma mise en scene nostálgica para os fãs de sua filmografia, mas bastante afetiva também para os menos acostumados, relembrando muito a mistura de doçura e crueza de seu clássico “Honkytonk Man – A Última Canção”, um drama que ensina a pureza da amizade e lealdade através de um homem e um garoto.

O paradigma do herói enquanto protagonista pelo “tiro, porrada e bomba” enquanto valor de integridade do homem em si, que é simbolizada na admiração do jovem ao seu galo de briga e à figura do cowboy/vaqueiro que ele enxerga na sombra desta representação através de seu idoso guardião nesta jornada, é desconstruída a cada reflexão de Mike junto ao garoto sobre a vida, sobre como as escolhas determinam a vida de cada um, e ensinamentos através do cuidado e respeito aos animais enquanto valor.

Através da linguagem cinematográfica Clint usa o conjunto de “Cry Macho” como um aceno de fechamento do conjunto de sua obra através do despertar de Mike e revisão de suas escolhas através do amadurecimento do jovem mexicano que ele resguarda e acaba se afeiçoando. Ali indiretamente Eastwood vai nos mostrando qual é a verdadeira beleza da vida – e do cinema – e não tem como não se emocionar com o desfecho do filme enquanto fechamento de uma história linda ali contada, seja do cowboy ou do seu realizador.