"Pânico" (2022), de Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett
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9.3

Onde: Cinemas

25 anos após o original se tornar um arrasa-quarteirão nas bilheterias, “Pânico” retorna às salas de cinema com o quinto filme da série e o primeiro a não ser dirigido pelo mestre dos filmes de terror Wes Craven, que morreu em 2015. Na nova continuação, um grupo de adolescentes é novamente aterrorizado por um assassino vestido como o icônico Ghostface e contam com a ajuda dos velhos conhecidos Sidney, Gale e Dewey, para tentar sobreviver.

A dupla de diretores Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett, responsáveis pelo ótimo “Casamento Sangrento”, assume a direção do que pode se tornar o recomeço da franquia e presta uma justa homenagem ao original, com diversas referências para os fãs mais atentos. O primeiro grande acerto do roteiro é não forçar as reviravoltas – a fórmula, que funcionou para os quatro primeiros filmes, é seguida à risca, o que traz uma boa familiaridade ao público que funciona bem. Não há forçação de barra e o que pode ser visto como algo óbvio é na verdade um grande acerto para não cair na armadilha da busca por uma surpresa superficial.

A grande sacada do primeiro Pânico também volta com força total nesse: a metalinguagem. Personagens fazendo referências ao próprio gênero em que estão inseridos com uma ironia inteligente de estarem quase conscientes de que fazem parte de um filme de terror. E dessa vez com um bônus: os diretores usam e abusam dos clichês cinematográficos desse estilo para manipular a audiência em tentar adivinhar mentalmente quem é o assassino e quando ele vai aparecer e fazer sua próxima vítima.

O novo grupo de personagens secundários é quase tão descartável quanto o original – mas felizmente alguns dos personagens mais interessantes e carismáticos são poupados para o caso de uma eventual continuação. A nova heroína, porém, é o ponto fraco da produção. Melissa Barrera, que interpreta a Sam, não consegue convencer muito bem e falta a ela o carisma de protagonista, principalmente quando é colocada ao lado de alguém do cacife de Neve Campbell, uma perfeita “rainha do grito” e atriz talentosa.

Jenna Ortega, que interpreta Tara (e é conhecida pela série “You”), é uma atriz bem mais competente e seria certamente uma escolha melhor como a “nova Sidney”. Jasmin Savoy Brown também é uma grande adição ao elenco como Mindy, sobrinha do falecido Randy, do filme original, e uma sucessora à altura como a personagem viciada em filmes de terror que ensina as regras para sobreviver aos outros personagens.

O fato de o filme ter eliminado o número 5 de seu título e ser simplesmente “Pânico” (ou Scream, no original) deixa óbvia a intenção de resetar a história para conquistar o novo público, o que também fica claro com todas as referências ao novo horror “elevado” de Jordan Peele e filmes como “O Babadook” e “Hereditário”, mas talvez tenha sido referente demais para conquistar uma geração que não conheça muito a série original. De qualquer forma, ele acerta ao não se levar a sério e aceitar exatamente o que é. O trio original, dessa vez coadjuvante, não cheira a nostalgia e recebe o respeito que merece – apesar de um acontecimento em particular que certamente vai chatear a todos os fãs.

O novo Pânico não deixa espaço para o tédio ou para o respiro, mantém a audiência pensando, adivinhando e se entretendo, refaz os passos brilhantes sem fingir que está inovando e assume o seu devido papel com a mesma competência que não o deixa cair no ridículo, algo raro nessa linha narrativa. Wes Craven ficaria orgulhoso.