“Beco do Pesadelo” (2021), de Guillermo Del Toro
6Pontuação geral
Onde: Starplus e Cinemas
Umas das maiores magias do cinema é nos “enganar”. Desde a clássica história da exibição do trem chegando na plataforma, que espantou a plateia há mais de um século, até a criação de planetas e mundos fantasiosos como veremos (será?) esse ano com Avatar 2, a maior graça do cinema é brincar com nosso cérebro e nos transportar para aquela janela gigante e brilhosa na nossa frente.
Guillermo Del Toro é um mestre na criação desses mundos, seres e realidades. Sofremos com O Labirinto do Fauno, torcemos por Hellboy, os robôs gigantes de Círculo de Fogo e um caçador de vampiros carrancudo em Blade 2. Mas foi em 2017, com A Forma da Água, que Del Toro recebeu as honrarias dos maiores prêmios do cinema. Quatro anos depois, o diretor volta a andar pelos tapetes vermelhos com o suspense noir O Beco do Pesadelo. Entretanto, parece que dessa vez Del Toro foi além na arte de “enganar” o espectador.
Bradley Cooper é Stan Carlisle, um homem que vai parar em um parque de diversões itinerante e aprende técnicas de como enganar o público ao ler suas mentes. Cada vez mais cheio de si, vai se envolvendo em golpes maiores e tramas mais pesadas, amparadas pela ganância e o desejo de mais sucesso.
Del Toro, assim como Carlisle, sabe para quem está apresentando O Beco do Pesadelo. É fácil ler a mente do seu público. Todo mundo que vai assistir uma nova obra do diretor espera uma história totalmente fantasiosa ou de realidades com toques de fantasia e mistério. Além disso, direção de arte e apuro técnico nunca faltaram. O Beco do Pesadelo tem tudo isso e os elementos técnicos são um superlativo. Todas as imagens são lindas, os enquadramentos perfeitos, as luzes e sombras devidamente encaixadas no quadro, um figurino mais incrível que o outro e o trabalho de som merece prêmios e mais prêmios.
É dessa forma que Del Toro vai maquiando o “golpe” e escondendo um enredo frágil e totalmente previsível. Ora, quem não se encanta em ver Bradley Cooper, primeiro como um Indiana Jones encarnado logo no início do filme e depois como o galã perfeito. Cate Blanchett traz toda a sua sensualidade e força como uma psiquiatra que confronta Carlisle. Ainda passam pela tela alguns dos nomes mais aclamados do cinema com Willem Dafoe, Toni Colette, Richard Jenkins, David Strathairn, Rooney Mara e Tim Blake Nelson.
Todos esses elementos de distração funcionam na mão de um grande diretor, ou de um grande ilusionista, como o palco perfeito. Quando o filme vai chegando ao clímax, me vi na ponta da cadeira esperando uma reviravolta que eu já sabia que iria acontecer há algum tempo. O final do filme é tão previsível, que nas mãos de um diretor ruim, não funcionaria. Assim como nas mão de um mágico de quinta, sumir com um avião nunca daria certo.
O Beco do Pesadelo é como um grande show de Stan Carlisle. Uma encenação perfeita de tudo que os cinéfilos querem ver, ouvir e sentir em uma produção de Guillermo Del Toro. Entretanto, assim como ocorreu em outros espetáculos que o diretor produziu, seja com robôs e Kaijus ou uma casa mal-assombrada, tudo isso esconde uma história previsível, um truque manjado e que se prolonga demais. Pelo menos, dessa vez ele não vai precisar fingir desmaio. O show ainda vale o ingresso e arranca aplausos da plateia.