“Talk to me” (2023), Danny e Michael Philippou
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8.9

 Onde: Cinemas

Toda geração tem um filme de horror para chamar de seu: O Exorcista, Halloween e O Massacre da Serra Elétrica, na década de 70, A Hora do Pesadelo e Sexta-Feira 13, para os anos 1980, Pânico, em 1990, Jogos Mortais e Atividade Paranormal, para os anos 2000 e por aí vai.

A geração atual já teve exemplares como Corra!, Hereditário e Corrente do Mal, mas nenhum a representa tão bem quanto o novo filme da A24: Talk to Me (ou em português, Fale Comigo).

Em 2022, a produtora lançou Morte Morte Morte, um suspense/comédia que não chega a ser um filme de terror, mas que se aproximava muito do comportamento atual com os cancelamentos e descancelamentos relâmpagos da internet, as amizades que começam e acabam na velocidade de uma curtida, o mergulho desenfreado em opióides e até o etarismo em um jogo trágico de gato e rato.

Em Talk to Me, acompanhamos um grupo de adolescentes que se reúne em volta de um objeto, uma mão de cerâmica, para fazer contato com forças além do nosso mundo. Como boa peça de terror, as regras de uso seguro do artefato são quebradas pela inconsequência dos jovens e tudo começa a dar errado.

O filme é dirigido pelos irmãos gêmeos Danny e Michael Philippou, criadores do canal RackaRacka no Youtube, que tem mais de um bilhão de views. A dupla australiana, de apenas 30 anos, consegue captar perfeitamente o comportamento do jovens atuais, o fascínio quase sociopata da exibição e do escárnio da internet, filmando e transmitindo ao vivo desafios que degradam e violentam o próximo ou a si mesmos.

É nesse mundo que conhecemos Mia (interpretada pela ótima Sophie Wilde) uma jovem que perdeu a mãe e não é tão bem vista assim pelos colegas de escola. Mia aceita logo de primeira encarar o “desafio do Fale Comigo” como uma forma de pertencimento ao grupo. As consequências que vão surgindo ao longo do filme, vão atingindo camadas ainda mais profundas  do comportamento dela e principalmente do estado mental que ela está vivendo.

Melhor terror do ano?


A saúde mental, ou melhor, a falta dela, é o grande mal da atualidade. Um mal que degrada silenciosamente e que é alimentado a todo o momento pelo comportamento social. Os irmãos Philippou aproveitam essa proximidade que têm com esse tema, seja pela idade ou pela experiência trabalhando na internet, para fazer um retrato perfeito desse mal através do terror.

E assim, não há novidade em fazer isso. Todos os filmes citados lá no primeiro parágrafo espelham no horror, no monstro ou no assassino aquilo que os jovens estão experimentando no momento: horrores do Vietnã, a liberdade e a pressão do pós-guerra, AIDS e por aí vai.

O filme dos Philippou, apenas vai na mazela da vez e envelopa isso tudo em uma direção estilosa e com muita identidade da dupla australiana. Há um refino na construção da tensão e o posicionamento de câmera, que faz o espectador mexer o pescoço para tentar acompanhar ou ver fora do quadro. O trabalho de som é excelente e um dos maiores sustos do filme vem exatamente dele: um som simples, mas preciso. Maquiagem, efeitos práticos, gore, tudo é bem executado.

Talk to Me (ou, de novo, Fale Comigo) é, até aqui, o filme de terror do ano e um dos filmes, dentre todos os gêneros, mais interessantes lançados até agora. Não à toa já ganhou até a alcunha de “o primeiro clássico de terror da nova geração”. Se é para tanto, e talvez seja, saberemos daqui algum tempo.

Por agora, só fica a dica: deixe o filme entrar na sua lista do que assistir no cinema e ele, assim como as imagens que Mia vê, não vai sair da sua cabeça por um bom tempo.