Avaliação Hybrido
7Nota do Autor
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7.7

O filme dirigido por Pedro Von Krüger se propõe a discutir questões pulsantes nos subúrbios – principalmente cariocas – tendo como centro regente a presença e ascenção de uma milícia que, por essência, preza pela violência como mecanismo de controle. A trama centra na figura de Quirino (Augusto Madeira), um policial que ascende ao poder após matar Chapa (Jefferson Brasil) – o Chefe do Tráfico do bairro em que mora – e sua rede de escudeiros, que age de forma articulada e inescrupulosa em prol de seus interesses.

Após o feriado de Carnaval, uma abordagem policial “rotineira” feita por Quirino e seu braço direito Maciel (Vinicius de Oliveira) foge do controle e desencadeia uma série de eventos que colocam todos os envolvidos em uma jornada por sobrevivência.

A narrativa se desenvolve de forma fragmentada e questões são pontuadas a partir da figura de cada personagem e seus dramas pessoais.

Religião, maternidade e machismo são discutidos a partir de Penha (Mariana Nunes), ex mulher do Chefe do Tráfico que, após a morte deste, se converte religiosamente. Seus instintos primitivos assumem a dianteira após o desaparecimento de seu filho e sua força agente passa a interferir direta e indiretamente nos planos dos milicianos.

Em paralelo, temos a ação do núcleo familiar extremamente edipiano de Quirino, no qual seu filho, visando garantir e, pretensiosamente, melhorar a manutenção do poder de seu pai, age de forma imprudente, o que reverbera diretamente no Policial.

Nessa trajetória aristotélica, ação e destino são pares. O diretor discute a perspectiva da ação humana diante do trágico destino funesto, ao qual todas as personagens estão submetidas, proveniente de uma engrenagem autônoma e incontrolável, responsiva somente à violência e injustiça.

A princípio, a listagem dos assuntos abordados pode soar mais do mesmo, mas fato é que o filme é provocativo e cumpre sua função questionadora, colocando em xeque costumes e valores ainda infelizmente encrostrados em nossa sociedade.

Importante frisar que o longa foi rodado em 2018 e faz parte do grupo de filmes atingidos pelo corte dos repasses do Fundo Setorial do Audiovisual, realizado pela Ancine. Sem apoio para distribuição, foi adotado pelo Canal Space e reformulado como um projeto multiplataforma, tendo sido lançado em formato de série – em cinco episódios – através do Canal Space, com grande sucesso de crítica e público e segunda temporada já garantida – e agora, por fim, num honroso ato de resistência do cinema nacional, chega às salas de cinema nesta quinta-feira, dia 23 de junho, e faz valer a pena a espera.