BEM-VINDOS DE NOVO, de Marcos Yoshi
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Os laços de sangue são, por si só, suficientes para garantir os laços afetivos?

Essa é a provocação sugerida em primeiro plano pelo diretor Marcos Yoshi em seu documentário “BEM-VINDOS DE NOVO”.

Descendente de família japonesa, seus pais optaram por deixar os filhos – o diretor e suas duas irmãs – ainda menores, no Brasil e se mudar para o Japão em busca de melhores oportunidades de trabalho.

Depois de 13 anos fora, seus pais decidem retornar ao Brasil e retomar a vida junto à família e ao seu país. Passamos a acompanhar então o lidar de todas as personagens envolvidas, com o choque fatídico das consequências do afastamento.

O documentário acompanha o esforço, as vontades e as dificuldades que permeiam essa reintegração de laços, discutindo, de forma extremamente crua e direta, as reais camadas de tal reconexão.

A reintegração se bifurca entre família e país, já que a análise da conexão entre Brasil e Japão também se presentifica.

A relação migratória entre os países é antiga e histórica, marcada inclusive pelo incentivo Governamental de ambos os países durante anos. O fluxo migratório foi subsidiado por ambos os Governos, tendo em vista as oscilações econômicas e de mão de obra, que é justamente o que move a ida dos pais do diretor ao Japão.

No que diz respeito à imigração, o diretor relaciona ao sacrifício e à responsabilidade da garantia do proveito econômico.

A sensação do não-pertencimento é uma constante. O não-pertencimento imigratório reverbera continuamente no não-pertencimento familiar.

As diferenças culturais entre os países tem papel fundamental nas expectativas sentimentais de todos os envolvidos.

Tudo é mostrado da forma mais simples e real possível, sem qualquer formalismo ou didatismo documental.

Os pais do diretor se esforçam, mas não ignoram a equipe; inclusive interrompem – tanto a equipe quanto o próprio diretor – com questionamentos diretos e até mesmo na determinação de funções práticas, como pegar a senha da fila do açougue para poupar tempo.

Essas quebras não permitem espaços para romantização da rotina diária, da realidade de quem acorda às cinco da manhã para a labuta. Por outro lado, estamos falando de laços de família, do amor que se constrói e é cultivado através da convivência. Neste sentido, temos a rigidez da realidade versus a elasticidade do amor – exatamente o contraponto que torna o documentário instigante.

A crueza estética adotada pelo diretor colabora para a força e o impacto dos acontecimentos, potencializados pela genuinidade dos depoimentos.

Assistir um pai constatar que seu conhecimento acerca de seus filhos se limita a relação consanguínea nos deixa em total posição de fragilidade e desconcerto diante da concretude prática e real dos fatos.

Aliás, praticidade é a guia constante da narrativa e ao que todos se atém em uma falha tentativa de controle sobre o incontrolável. E é justamente quando o incontrolável se estabelece, que a humanidade sobressai, assume o primeiro plano e os sentimentos entram em erupção.

Esse mix contraditório e potente é o responsável por diversas curvas dramáticas decorrentes do ônus e bônus que a só a vida pode proporcionar.

 

trailer – Bem-vindos de novo

Bem-vindos de novo Direção – Marcos Yoshi Brasil, 2021, 105′ Classificação indicativa trailer – livre Classificação indicativa filme- 10 anos Sinopse – Na virada do milênio, os descendentes de japoneses Yayoko e Roberto Yoshisaki foram tentar uma vida melhor no Japão, enquanto seus três filhos ficaram no Brasil com os avós.