NAPOLEÃO, de Ridley Scott
6.5Pontuação geral
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7.0

 

Biografias são tradicionais no cinema, principalmente o Hollywoodiano. Se por um lado temos filmes que podem até mesmo ser utilizados como documento histórico, por outro, temos que levar em consideração (o que pode parecer óbvio, mas não é) a liberdade poética e criativa quanto a seleção e ao trato do recorte – pessoal e histórico – feito pelo responsável. Se o foco será realístico, histórico, poético, enfim, são muitas as possibilidades.

Um dos casos que pipoca à cabeça é o ótimo retrato histórico/estético/psicológico de Sopia Coppola em sua Maria Antonieta (filme de 2006), que foge de uma biografia pareada com fatos históricos temporais para focar em uma metáfora imagética e reflexiva acerca de aspectos sócio-políticos da época. Mas não estamos falando de Maria Antonieta e, sim, de Napoleão.

O Napoleão de Ridley Scott, diga-se de passagem.

A figura pomposa do imperador, somada às produções pomposas do diretor (Gladiador, Allien) dão um match automaticamente “shippável”. É com essa expectativa que muitos espectadores devem assistir ao filme. Nesse sentido, para muitos talvez ela se concretize, principalmente no que diz respeito à pompa de figurinos, cenários, cenas de ação e batalhas memoráveis. Mas um filme não se faz somente disso.

Napoleão Bonaparte é uma das figuras mais megalomaníacas e narcisistas da história francesa (até seu túmulo no Museu dos Invalides segue essa característica), bem como, uma das figuras mais fascinantes em termos de estratégia de guerra e inteligência política. Portanto, uma persona extremamente interessante em termos cinematográficos.

Ridley Scott utiliza como base de seu retrato o inquestionável e extremo talento de Napolão como estrategista de guerra e também como político e ressalta superficialmente o lado sanguinário do imperador (mais de 3 milhões de pessoas morreram em suas batalhas). Contudo,  opta por direcionar o foco para o relacionamento de Napoleão e Joséphine de Beauharnais, sua primeira esposa.

O filme não demora a mostrar o encontro do que viria a ser o complexo casal Napoleão e Joséphine. A partir deste ponto, vemos um Napoleão vitimizado,  inseguro, submisso às figuras femininas e perdido em seu louco amor por Joséphine. Em contrapartida, vemos ela, recém-viúva, aceitar convenientemente os agrados de seu futuro esposo.

A relação de conveniência versus amor que se estabelece é ressaltada a partir deste ponto. Até o ponto em que Napoleão, ao descobrir uma das traições de sua esposa, se revolta e deserda seu posto em meio à guerra, para romper com Joséphine.

Entretanto, ele perdoa Joséphine e o casamento continua, mas há uma mudança na engrenagem do relacionamento, de forma que Joséphine se coloca no papel de eterna musa disponível ao amado, alimentando o ego existencial do mesmo, que por sua vez, permanece imaculado diante de sua devoção à esposa.

Até mesmo quando ambos se divorciam por conta da falta de um herdeiro à coroa, ainda assim, Napoleão é sempre retratado com um olhar mais afetuoso que Joséphine.

A cronologia dos acontecimentos suscitados por Ridley Scott conferem com os dados históricos. Entretanto, a verdade é que ambos se traíam de forma constante e Napoleão, apesar de todo seu amor à Joséphine, a tratava de forma extremamente abusiva. Aliás, a abusividade da relação como todo é pontuada pelo diretor no ato final, mas com uma Joséphine já reduzida à instabilidade emocional e ao olhar de pena por parte do espectador, como se Napoleão fosse o grande salvador e guia da instável e adúltera Joséphine, quando o que se sabe, é que o interesse sócio-político da manutenção do casamento era mútuo, uma vez que o que faltava de traquejo social a Napoleão, sobrava a Joséphine, de forma que além do amor, o encontro era politicamente benéfico a ambos.

Uma vez criticada esta parte, sigamos para a rápida análise do restante.

Durante 2 horas e 38 minutos de filme, Ridley Scott também consegue se divertir e nos divertir, fazendo o que gosta: cenas épicas de batalha como a de Austerlitz; a primeira entrada de Napoleão no campo de batalha é realmente algo fascinante. Entretanto, o que empolga logo no início, passa a se repetir e acaba por se tornar monótono, a exemplo da batalha de Waterloo, que culminou  com a derrota de Napoleão.

Quanto a isso, também vale chamar atenção ao tempo narrativo trabalhado por Ridley Scott. Com o início da queda de Napoleão, o filme adota um tempo mais dilatado, reforçado por um Joaquin Phoenix desgastado, por vezes lento e reticente.

E já que mencionei Joaquin Phoenix, aproveito para fechar o texto dizendo que qualquer coisa que se diga acerca da atuação dele será redundante. Ele é ótimo, está ótimo e dentro do que lhe é proposto, faz, desfaz, refaz o que quer.

Se vale a pena assistir? Sempre.  Até porque, parafraseando Napoleão: “A história é um conjunto de mentiras sobre as quais se chegou a um acordo” (Napoleão Bonaparte – Frase publicada por Balzac). Nesse bem bolado que é a história e o cinema, o acordo, no caso, pode ser que agrade mais a uns do que outros.

 

NAPOLEÃO | Trailer Oficial (Sony Pictures) – HD

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