"CRÔNICA DE UMA RELAÇÃO PASSAGEIRA" (2022), de Emmanuel Mouret
9Pontuação geral
Votação do leitor 1 Voto
9.4

Emmanuel Mouret possui um estilo pessoal, agradável e aconchegante de dissecar os questionamentos que permeiam os relacionamentos pessoais. Seguindo o caminho do ótimo “As coisas que dizemos, As coisas que fazemos”, ele permanece explorando o (des)amor, o desejo, a hesitação, através da construção de uma narrativa refinada, inteligente e ao mesmo tempo, extremamente humana.

Em “Crônica de uma Relação Passageira”, acompanhamos Simon (Vincent Macaigne), um homem socialmente introvertido, casado há anos e Charlotte (Sandrine Kiberlain), divorciada, espontânea e extrovertida, que após um beijo em uma festa, marcam um encontro.

O filme começa neste primeiro encontro, permeado pelo nervosismo e excitação, decorrentes da tensão sexual do proibido. Entre este misto de tesão, hesitação e muitos acordos estratégicos, eles acabam por ficar juntos e o filme se aprofunda na exploração analítica de questões como paixão, amor, fidelidade emocional e responsabilidade afetiva (individual e coletiva).

O que era para ser somente um, acaba se transformando em uma sucessão seriada de “encontros casuais”, que dão ensejo às reflexões da dupla acerca da honestidade de seus sentimentos, para consigo e com os demais – indireta e inevitavelmente envolvidos neste relacionamento.

Tanto Simon quanto Charlotte relutam contra seus sentimentos, evocando constante e reiteradamente a existência da esposa de Simon, como a figura simbólica impeditiva e justificativa para a falta de coragem de ambos quanto à validação do relacionamento.

Aproximações e distanciamentos oscilantes, tanto corporais dos atores, quanto do enquadramento espacial da câmera, nos colocam na posição de observadores da constante iminência eruptiva deste amor.

O jogo fluido e refinado entre os atores principais é essencial para valorização dos diálogos – ponto de destaque do filme – longos, inteligentes e divertidos diálogos entre o casal protagonista, pautados pela sinceridade e liberdade de quem não tem compromisso algum para com o outro, o que garante uma mistura imprevisível de situações extremamente desconfortáveis, engraçadas e também dramáticas, trazendo à trama o peso necessário, de forma que, mesmo através da máscara da leveza e sinceridade, o filme explora assertivamente as contradições humanas e a realidade consequente da suspensão de nossas emoções.

Uma ‘dramédia’ romântica extremamente deliciosa, inteligente e imperdível.

 

*Filme assistido durante a 46a. Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.

 

“Diário de um Romance Passageiro” | Trailer oficial | 3 de novembro no cinema

No Description