Tralalá é um músico de rua que tem sua casa demolida. Mesmo sem perspectivas, ele perambula com sua inseparável guitarra pelas ruas parisienses reverberando letras lúdicas, através das quais ele denuncia as mazelas da vida e da sociedade. Pelo caminho se depara com desafetos diretos à sua positividade. Até que em uma noite conhece uma jovem com quem se conecta. A jovem logo desaparece pelas ruas, deixando-o apenas com uma frase: Não seja você mesmo.

Completamente impressionado pela bela mulher, ele resolve procurá-la. Pelo caminho, é confundido com o filho de uma senhora que o ajuda e – influenciado ou não pelo conselho dado pela jovem de seus sonhos – resolve assumir a farsa.

A partir daí, a narrativa se desenvolve de forma rasa e sem muitas justificativas, sempre sob a égide da poesia farsesca. Durante o segundo ato, os diretores travam confrontos promissores, que acabam por se dissipar em meio ao ambiente lúdico e positivista que rege o filme.

Entretanto, acertam ao trabalhar a questão da moralidade sob o ponto de vista de seu protagonista. Ao adotar sua nova personalidade, Tralalá vivencia a possibilidade de inclusão por uma sociedade que sempre o expeliu. Tudo está praticamente resolvido em sua vida, mas para assumir este papel definitivamente, ele teria de abdicar de sua essência – pura e livre – diretamente conflitante com a concretude da existência que lhe é proposta.

Os diretores Arnaud Larrieu e Jean-Marie Larrieu miram em um musical farsesco com características do realismo poético francês mas acabam acertando em uma obra simpática, que apesar de se desenvolver de forma agradável, o faz sem muita profundidade e se sustenta, em grande parte, pelo talento de seu elenco, principalmente no que diz respeito ao protagonista Tralalá, vivido pelo ótimo ator Mathieu Amalric.

Mathieu Amalric é de fato o grande trunfo do filme. Dono de um sorriso carismático e um olhar de profunda empatia, conquista o espectador logo no primeiro frame, fazendo com que você abstraia qualquer análise cinematográfica dos acontecimentos e se aconchegue na cadeira, pronto para caminhar com ele onde quer que ele te leve.