"LIL NAS X - LIVE LONG MONTERO" - Londres 2022
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Com 15 minutos de atraso, as luzes do Apolo Eventim, em Londres, se apagam. Os gritos começam e uma projeção sobre as cortinas fechadas no palco mostram uma atriz com visual futurista explicando o “big bang”, a explosão que deu origem ao universo, e falando sobre como os seres humanos são todos únicos e especiais. E introduzindo a história de um deles em particular – Montero, o alter-ego de Lil Nas X, um dos artistas mais surpreendentes a surgir no mundo da música nos últimos anos. É o começo do Ato 1, “Renascimento”, em sua primeira turnê mundial, Long Live Montero.

O show é curto, pouco mais de uma hora, mas inclui todas as músicas do seu primeiro e único álbum, hits que ele lançou por fora e uma faixa inédita ainda em fase de produção. O cantor bebe na fonte de Lady Gaga e outros nomes do pop, com um espetáculo repleto de teatralidade. Além do já mencionado, outros dois atos separam a setlist com cenografia e figurinos acompanhando – Ato 2 é “Transformação” e o Ato 3 é “Tornando-se”, e juntos eles contam a história de como aquele jovem de 23 anos e 1.88m de altura é uma das grandes apostas para o domínio mundial.

A preparação, que durou meses, fica evidente. Lil Nas X comanda o palco, não desafina e se junta aos dançarinos em coreografias elaboradíssimas, criadas por um especialista que trabalhou com os maiores nomes do pop. Ele está confortável, levanta o público e interage. Tudo parece meticuloso e calculado mas extremamente efetivo. Nada ficou de fora e a preparação vocal e física a que ele se submeteu não decepcionam. As referências a cultura pop são abundantes, com muitas cores, cavalo mecânico, e uma atmosfera pop que viu seu pico no começo dos anos 2000 mas agora encontra sua forma de abolir gêneros, padrões e frustrações sexuais com a Geração Z no controle.

E o coreógrafo não é o único profissional de alto escalão dedicado ao show: a cenografia é inteligente, o jogo de luzes é envolvente e as projeções no telão que transformam o palco em um universo tridimensional cinematográfico são arrasadoras. Tudo ajuda a contar a história de um personagem fictício que surge com o universo e assume o trono em uma versão do inferno que parece mais com uma rave imperdível. Os elementos de seus videoclipes também estão lá, fazendo referência a estádios de beisebol, paraísos e até uma prisão, em Industry Baby, um dos pontos altos do show e a última música antes do bis. O foco aqui é claro – manter a energia em um nível estratosférico, enquanto a música em si serve de apoio com instrumentos pré-gravados. Não há uma banda ao vivo para tirar a atenção da euforia visual.

Seus outros grandes hits, Call Me By Your Name, That’s What I Want e Old Town Road (a canção que o revelou para o mundo como um cantor negro e gay que queria fazer música country) mostram a força de Lil Nas X como um grande nome do entretenimento, levando o público ao delírio. Mas mesmo nas outras só conhecidas por quem já ouviu o álbum inteiro, a energia nunca se dispersa – é tudo uma grande festa lacradora de ativar desejos e excitação. E, claro, ele intercala com piadas sobre a própria sexualidade e interações breves com o público. A história que se desenrola no palco também não deixa de ser política, espelhando suas letras sobre autoestima, pensamentos suicidas, racismo e preconceito, ela inclui duras críticas a religiões homofóbicas que causam tanto dano no mundo.

É um pouco notável que Lil Nas X se expressa através das letras e da dança, mas não controla a timidez ao falar. Ele está confortável com o ambiente criado para apresentar aquele personagem e ouvir os fãs cantarem suas letras de volta para ele. Entre 9 trocas de figurino, beijo na boca, parte do público sendo levado ao palco para rebolar e asas de borboleta tecnológicas, ele deixa claro a mensagem: Montero está pronto para ser um popstar e lotar arenas mundo afora. E esse é só o começo.