O humor é uma das formas mais universais de comunicação.

Por mais “feita” que possa parecer, essa frase carrega uma verdade inquestionável e certeira no que diz respeito às comédias nacionais.

“De repente, Miss!”, novo filme dirigido por Hsu Chien, chega agora aos cinemas e traz uma família liderada por Mônica (Fabiana Karla), uma mulher de quarenta anos, mãe de dois filhos, que luta para retomar sua individualidade após largar seu emprego e sua vida para cuidar dos dois filhos, hoje já adolescentes.

O filme é o que chamamos de “comédia de situação”, ou seja, uma comédia tradicional popular, com situações familiares, de fácil identificação a todas as pessoas/idades. Como tal, a graça se concentra nas situações, repletas de confusões e trapalhadas, muita comédia física e piadas pontuais. Essa lista de características pode parecer, muitas vezes, uma fórmula matemática para se fazer uma comédia popular. E é para este ponto que eu direciono este texto. Calma. Não pretendo discorrer sobre o assunto como forma de TCC, mas simplesmente estender uma provocação que começou comigo mesma.

As grandes comédias nacionais são pensadas para o grande público, ou seja, visam a expansão do alcance de espectadores; para que isso ocorra, a generalidade é um ponto imprescindível.

A comédia, em si, tem um poderoso poder de penetração na emoção subjetiva do espectador, justamente por sua linguagem fácil.

Estamos falando de personagens carregadas de esteriótipos, que atuam como arquétipos sociais de fácil e geral identificação. Essa “geral identificação” sofre algumas alterações com o decorrer do tempo, por influência de uma série de fatores – sociais, econômicos, políticos e nos últimos anos, digitais. O mundo digital, aliás, é mais um “arquétipo” adicionado ao caldeirão social. Falando em caldeirão, assim como alguns esteriótipos foram adicionados, outros foram retirados desta equação. Há piadas que hoje em dia não são mais toleradas – o que gera uma discussão muito mais profunda e longe da minha intenção e propriedade, que são os limites da comédia.

Continuando, tudo isso deriva e oscila a partir do momento em que o país se encontra. Dentro disso, temos o cinema, uma das maiores ferramentas sociais já inventadas. A chave, portanto, reside na universalidade, que gera a união através da identificação. E é isso que a comédia faz. As comédias tem o poder de furar bolhas sociais como poucos mecanismos tem, atendendo o gosto de todas as classes sociais, reunindo essa diversidade e pluralidade em um mesmo espaço – numa caixa preta – e em uma mesma experiência – uma sessão de cinema.

Esse tipo de comédia costuma apostar, e muito, no carisma das personagens.

No filme, mesmo interpretando uma personagem cuja jornada de transformação se inicia no auto flagelo, Fabiana Karla garante sempre momentos de acalento. Quando se junta à sua parceira Polly Marinho, aí então, é felicidade.

João Baldasserini surpreende como o pai amoroso, inocente e um pouco atrapalhado dessa família. Inclusive no que diz respeito à comédia física, o ator vem abrindo um caminho interessante de destaque para este tipo de comédia.

Giulia Benite segue fazendo um transição muito fluida entre a infância e a adolescência, absorvendo novas camadas em suas personagens e esbanjando carisma, mesmo como uma patricinha que não larga o celular.

Tudo isso para dizer que, não só este filme em específico, mas também outras comédias recentemente lançadas, me levaram a singela reflexão acerca da inquestionável honestidade, clareza e efetividade das comédias populares nacionais – muitas vezes subestimadas pela crítica.

O resultado dessa horizontalidade se traduz nas bilheterias.

Isso não vem de hoje, vide o nosso eterno menino de ouro da comédia nacional, Paulo Gustavo. Entretanto, pós quatro anos de desmonte cultural, o fenômeno “comédia nacional” é algo a se louvar. Atualmente, as maiores bilheterias do cinema nacional são provenientes das comédias nacionais, que lotam um número impressionante de salas simultâneas, com um público que varia de criança a idoso. Uma pluralidade nacional que se efetiva, se une, para o consumo do nosso cinema, o que aquece o mercado e incentiva a produção de uma indústria que gera milhares de empregos.

Portanto, de fato, o humor é uma das formas mais universais de comunicação.

O filme estreia dia 23 de maio nos cinemas.

De Repente Miss I Trailer

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