A Música da Minha Vida - 2019
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Por que algumas coisas dizem tanto sobre nós ou mexem tanto com a gente? Livros, filmes, lugares, fotos, músicas? As coisas que gostamos, assim como nossa família, nosso país, nossa classe social, etc; formam as narrativas que fazemos sobre nós mesmos e que os outros fazem da gente. Alguns chamam isso de identidade e acham que só temos uma. Mas a verdade é que ela é fluida e está sempre em construção. O filme “A música da minha vida” (que ainda está em cartaz em poucos cinemas, mas está) trata justamente dessa constante formação de quem somos e sobre como a música impacta e preenche essas histórias.

Não quero fazer aqui resenha técnica do filme, mas uma reflexão sobre como as pessoas e coisas nos formam também e como essa conexão é central, coisa tão em crise hoje em dia, apesar dos 4Gs. Javed é um adolescente filho de imigrantes paquistaneses que vive na melancólica cidade industrial de Luton, no interior da Inglaterra. A história se passa nos anos 80, no auge da Era Thatcher e seu neoliberalismo que promoveu altos índices de desemprego, crise econômica e social, mas tem muitas proximidades com os dias atuais.

Como qualquer adolescente, a questão de “quem sou eu” tem grande impacto na sua vida social e ele – como muitos  – tem dificuldade de se encaixar. Como ser um adolescente britânico e ao mesmo tempo paquistanês?  É neste momento da crise das identidades que um colega apresenta o cantor americano Bruce Springsteen e Javed se encontra nas canções do “Boss”. As letras e as melodias falam com ele, mesmo o cantor sendo um americano de Nova Jersey e de outra geração. Mas ambos têm conflitos com os pais, se sentem sufocados nas cidades natais empobrecidas de dinheiro e de vida cultural, ambos se expressam pelas palavras. Por mais diferentes que sejamos, existem sempre pontos que nos conectam e sentir isso é quase mágico.

A música se torna a pedra de salvação para ele naquele contexto de intolerância e xenofobia (seria 2019?) e busca de saber quem ele é. Por isso, quem tem essa relação próxima de se sentir explicado por canções, prepare o lencinho e corra pra ver enquanto ainda está em cartaz.