Onde ver: Netflix
9Nota da Hybrido
Votação do leitor 2 Votos
9.7

A transformação de um professor de química em traficante de drogas sintéticas marcou toda uma geração com Breaking Bad. A conclusão da saga, em 2013, foi celebrado como um dos melhores finais de todos os tempos entre as séries de TV. Em 2015, os mesmos criadores de Breaking Bad lançaram Better Call Saul, um prólogo, para contar a história do infame advogado Saul Goodman (Bob Odenkirk) que por muitas vezes roubou a cena do icônico Walter White. Depois de cinco temporadas e faltando apenas uma para o seu final, Better Call Saul se revelou muito superior do que poderia ser considerado apenas um prólogo oportunista.

A proposta da “transformação” é basicamente a mesma de Breaking Bad. No entanto, Saul Goodman – que nasceu e cresceu como James “Jimmy” McGill – já começa com muito mais falhas de caráter e bem menos distante de seu ponto de ruptura do que Walter White estava do dele. A narrativa que conta a história de Jimmy não é nada linear e é preciso ficar atento para não se perder nas três linhas do tempo que a conduzem. Demora um pouco para entendermos o que é futuro (pós Breaking Bad), passado (flashbacks) e o presente efetivo da trama – a partir de 2002 – mas, quando pegamos a manha, entendemos todas as camadas e percebemos que vamos acompanhar na verdade os eventos que levam à fascinante transformação de Slippin’ Jimmy em Saul Goodman

Albuquerque é logo ali

Vince Gilligan e Peter Gould nos oferecem personagens bens construídos e diálogos preciosos. A óbvia tonalidade terracota da fotografia aliada à sagacidade da trilha sonora deixam a atmosfera tão envolvente que – nos momentos de maior tensão – a produção parece ser capaz de trazer o clima desértico de Albuquerque para dentro da nossa casa. O tom da série é dado de forma impressionante na abertura, com dez clipes diferentes – um para cada episódio. São segundos toscos – como que gravados em VHS – com cores extremamente saturadas, que evoluem em cafonice e degradação no decorrer das temporadas e vem acompanhados por um riff bem “fim de festa” que, segundo Gilligan “é o fim de música mais cagado do mundo, para fazer juz à bosta (proposital) que é o vídeo”

De quebra, Gilligan e Gould nos presenteiam com a origem de outro personagem, o enigmático Mike Ehrmantraut (Jonathan Banks), cuja trajetória é igualmente fascinante. Eventualmente outros nomes conhecidos chegam à trama, como Gus Fring (Giancarlo Esposito) e Hector Salamanca (Mark Margolis), um prenúncio de que a narrativa avança rumo ao contexto de Breaking Bad. Os personagens inéditos e o respectivo elenco também são um belo trunfo de Better Call Saul. No início da trama, Jimmy se divide entre a defensoria pública da cidade e os cuidados de Chuck (Michael McKean), seu irmão mais velho. Chuck deixara de sair de casa por problemas de saúde mas ainda é sócio de Howard Hamlin (Patrick Fabian) num renomado escritório de advocacia, onde trabalha Kim Wexler (Rhea Seehorn). O relacionamento entre Jimmy e Kim é tão complexo e tão cheio de camadas – assim como as transformações e camadas da própria Kim – que merecia uma análise a parte (vou pensar no assunto, ok?). 

A dez episódios do fim

O resultado são cinco temporadas de uma trama intensa e complexa, com arcos diversos e bem resolvidos e possibilidades que só não são infinitas porque conhecemos aqueles que obviamente aparecem em Breaking Bad. Nesta quinta temporada, finalmente Jimmy passa a assinar como Saul Goodman e os eventos começam a dar vislumbres de familiaridade com a série original. Já é possível fazer um exercício de adivinhação rumo à sexta e última temporada. Todas as subtramas até aqui (as histórias do Mike, as guerras no Cartel, Jimmy “publicitário”, etc) convergem para o entendimento de que transformação é fruto de uma série de ações e reações, escolhas e consequências. Lembrando do provérbio de fazer limonada dos limões que a vida te joga, Saul Goodman é pura limonada. 

A despeito da proximidade com o cenário inicial de Breaking Bad, o episódio final da quinta temporada deixou uma importante questão no ar: as futuras escolhas da Kim. Bem ou mal sempre soubemos o que esperar de Jimmy pois conhecemos bem Saul Goodman. Mas o que esperar da Kim na sexta temporada? Estaria ela também perto de seu ponto de ruptura de caráter, estaria “breaking bad“? E a mais evidente: por que ela não está em Breaking Bad?

Eu tenho algumas pequenas teorias mas conversamos sobre elas em outra oportunidade.

Notas por temporada

Temporada     Nota    Melhor Episódio
1                               9         06 – Five-O
2                               9         09 – Nailed
3                              10        07 – Chicanery*
4                               9         10 – Winner
5                             10         09 – Bad Choice Road

(*) Melhor episódio da Série.

PS: Além deste spin-off, Breaking Bad também deu origem ao longa El-Camino. Você encontra a análise do Cadu Moura aqui.