Ao longo do cinema, sempre temos filmes que marcam tanto que geram não só referências para outros filmes, mas também são recontados em outros formatos, adaptados para outros cenário, outras épocas, e às vezes se tornam filmes bem diferentes, como é o caso da comparação em tela. As sinopses já marcam as diferenças, assim como as durações dos filmes, como podem ver abaixo:
- “Sangue de Pantera” (Cat People, 1942, 73min, EUA, P&B)
Direção: Jacques Tourneur
Elenco: Simone Simon (Irena Dubrovna), Kent Smith (Oliver Yates), Jane Randolph (Alice Reed), Tom Conway (Dr. Louis Judd)
Sinopse: Irena, uma misteriosa jovem sérvia, acredita que descende de uma raça de mulheres-pantera que, quando emocionalmente excitadas, se transformam em criaturas assassinas. Seu marido Oliver decide levá-la a um psiquiatra, Dr, Judd, recomendado por Alice, sua colega de trabalho, para investigar qual é o real problema de Irena.
- “A Marca da Pantera” (Cat People, 1982, 118min, EUA, colorido)
Direção: Paul Schrader
Elenco: Nastassja Kinski (Irena Gallier), Malcolm McDowell (Paul Gallier), John Heard (Oliver Yates), Annette O´Toole (Alice Perrin)
Sinopse: Irena, uma jovem misteriosa, visita seu irmão Paul, que mora em New Orleans. Aos poucos, a virgem Irena descobre que quando tomada por desejo sexual, fica diferente, e seu irmão explica que ambos pertencem a uma linhagem em que se tornam panteras após ato sexual com humanos. Apaixonada por Oliver, curador do zoológico local, Irena teme consumar sua paixão por ele.
Apesar da protagonista ser homônima e a origem da linhagem ligada a panteras negras ser a mesma, os filmes buscam caminhos, desenvolvimentos, e até mesmo conclusões bem diferentes umas das outras, apesar de Schrader se referenciar bastante no trabalho de Tourneur, que criou muito em termos de linguagem cinematográfica com pouco orçamento, diferente de Schrader que optou por um caminho mais pop (apesar da origem deste autor num cinema mais autoral).
Tourneur, quase numa espécie de média-metragem, cria a tensão e o medo através da sutileza das menções, seja pelo som ou pela iluminação, e a narrativa sexualmente reprimida da protagonista que não pode consumar sua paixão pelo marido é bem retratada na metáfora da mitologia da mulher-pantera, e nos traz muitas cenas clássicas, como na sessão de hipnose, ou na visita ao pets shop, mas principalmente na perseguição de Irena atrás de Alice, e na cena posterior na piscina de um clube. O filme de 1942 só peca quando abre mão da sutileza, e no clímax resolve mostrar o perigo, quebrando a lógica criada durante todo o filme.
Já Schrader, num longa-metragem, introduz o filme com imagens da mitologia que carrega o filme, e traz a descoberta da protagonista quanto sua origem não pela psiquiatria, e sim pelo irmão sob a mesma condição, que a apresenta à antropologia de sua espécie, ao observar as tentações que a irmã sofre ao se relacionar com Oliver, que de forma freudiana o diretor-roteirista nesta versão transforma num curador de jardim zoológico. Vale destacar a trilha sonora de David Bowie, inspirada no original, assim como a canção homônima ao título original do filme, “Cat People”.
Se o filme de 1942 é um clássico que inspirou diversos cineastas no gênero do horror, o de 1982 traz o aspecto de suspense carregado de tensão sexual, explorando detalhadamente os corpos femininos de suas personagens, o que é um dos marcos do cinema dos anos 80, além de elementos do gore nas cenas de violência explícita envolvendo mutilações essencialmente. Vale ver ambos e comparar.
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Onde ver “A Marca da Pantera”: Netflix