“Sweet Tooth” (2021), de Jim Mickle
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9.0

O cineasta Jim Mickle finalmente traz às telas a brilhante história do menino Gus, que luta para sobreviver num mundo pós-apocalítico. Baseada na obra-prima dos quadrinhos do desenhista e escritor, Jeff Lemire (2009, da DC Comics); a produção choca devido seu extremo realismo com nosso mundo real após quase 12 anos de seu lançamento. Eis que temos O “Iron Man” Robert Downey Jr. na produção e adaptação primorosa da HQ pra televisão.

Na trama, seguimos o menino Gus (um excelente Christian Convery, melhor criança em tela após Jacob Tremblay), que vive nas florestas do interior americano e é obstinado pela busca de sua família. Após uma missão científica do laboratório Fort Smith ruir em desastre no Alasca, o vírus chamado Flagelo é liberado – sem controle – na atmosfera, devastando o planeta e seus povos. Praticamente todas as crianças nascidas após a catástrofe são híbridas, ou seja, uma mistura entre animais e humanos. Considerados doentes (a causa para todo mal) pelos humanos, muitas tribos vivem de perseguir os tais híbridos e aniquilá-los. Muitas vezes, com o objetivo de encontrar a cura.

De fato, no desenrolar dos episódios, não sabemos o que veio antes: o vírus ou os híbridos. Porém, com a profunda ajuda do doutor Singh, poderemos entender o imenso problema. Gus é um menino-cervo altamente cativante, como a série. Ele conhece o ex-jogador de futebol Jepperd – um resistente – e caminham juntos atrás de seus desfechos.

E é impossível não associarmos o show à pandemia que ainda nos esfacela neste ano de 2021. Na série, seguimos cientistas, estudos, cálculos, vestígios e experimentos a fim de entender o vírus e sermos curados. Paralelo a esse esforço hercúleo de normalização da sociedade, há a notável e acéfala parcela negacionista, que busca sua única e não verificada cura, com seus preconceitos formados, desrespeitando o isolamento e liderada pelo odioso General Abbot. Curioso, né?

Vale destacar que essa absurda e aterradora semelhança jamais pôde prever a pandemia pela qual atravessamos. O texto é de 2009, o que torna tudo mais surpreendente. De maneira inteligente, a Netflix joga os 8 episódios neste ano de 2021. A série possui diversas tribos lutando suas próprias odisseias na distopia do “Flagelo”. Há inclusive uma sociedade militarizada defensora dos híbridos, que luta contra quem quer matá-los. Um ponto fraco são os conflitos internos desta específica tribo. Custam quase dois episódios e deixa a série um pouco lenta, mesmo que tente se ressignificar ao final.

Os 5 primeiros minutos do oitavo episódio são geniais: difícil digestão. Você vive a pandemia atual (2021) de um jeito conflitante e perturbador. É difícil olhar para a TV. Há um aspecto de organização de sociedade (como em Walking Dead), com destaque para relações familiares que surgem. A série é uma palestra sobre como se comportar diante de uma calamidade. Fosse passada antes do que nos assola hoje, estaríamos bem preparados. Que venha logo a segunda temporada.