Onde ver: Netflix
9.5Nota da Hybrido
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8.1

Com uma temporada nitidamente disposta a corrigir desvios e concluir a saga, Orange Is The New Black se despede com louvor. A temporada final da série original da Netflix há mais tempo em exibição, foi liberada para os “maratonistas” no dia 26 de julho resgatando suas origens ao mesmo tempo que reafirma seu flerte com a dura e cruel realidade da vida: ela raramente é justa.

Essa reflexão chega a conta gotas. Voltando a fazer alguns paralelos com o sistema carcerário privado norte-americano e com as atuais manchetes em destaque por lá, somos conduzidos para o drama das imigrantes separadas de seus filhos, para o preconceito incentivado pelas falácias vomitadas pelas autoridades além das deportações arbitrárias e do absurdo julgamento de crianças estrangeiras desacompanhadas. Trata-se de toda uma nova narrativa que dá fôlego para que alguns arcos perdidos sejam resgatados enquanto outros são – muito bem ou muito mal – concluídos.

E por que essa polaridade? Porque, graças principalmente ao elenco mais que primoroso, são muitos arcos e personagens para dar conta em uma temporada de apenas 13 episódios. A solução aparente foi dar cabo de personagens cujas tramas não tinham muita coisa a acrescentar e transformar as subtramas em núcleos que, uma vez elencados, parecem refletir a prioridade escolhida pelos roteiristas e showrunners para concluir cada narrativa. A iminente rota de colisão particular entre Daya (Dascha Polanco) e Aleida (Elizabeth Rodriguez), por exemplo, pelo comando da máfia das drogas na prisão – a despeito do drama familiar e da constante tensão entre as duas – ficou tão rasa e simplista que beirou o enfado.

O mesmo erro é quase cometido com o arco de Suzanne Warren (Uzo Aduba) e sua mini metáfora da prisão em forma de galinheiro. O que deixa o núcleo “Flórida” ligeiramente melhor que o primeiro é a volta da Lolly (Lori Petty), com sua presença intensa e marcante, e a crescente amizade de Suzanne com Tiffany Doggett (Taryn Manning), a “caipira” Pennsatucky. Doggett esteve sempre no limiar do protagonismo e dessa vez ela chegou ainda mais perto de roubar a cena. Manning conseguiu mesclar os trejeitos da garota problema com a vivacidade de alguém que vislumbra uma chance de esperança transformando a personagem em uma das pérolas da temporada, com alguns dos momentos mais tocantes deste sprint final. Os guardas e a administração do presídio também ganharam um enfoque mais caprichado. Algumas contas são enfim cobradas, assim como algumas decisões equivocadas continuam sendo tomadas, principalmente no tocante à “gerentona” Linda Ferguson (Beth Dover) e sua eterna busca pelo lucro e pela manutenção do status quo.

Antes de entrar nas duas subtramas mais importantes ou “caprichadas”, vale destacar algumas coisas, como o núcleo composto por Nicky (Natasha Lyonne), Red (Kate Mulgrew) e Morello (Yael Stone) cujos desfechos nos chamam à reflexão sobre perdas de uma forma bem particular e tocante, que certamente vai mexer com muita gente. Também é válido o esforço de revisitar todas as estrelas que passaram pela série, seja com flashbacks ou com aparições surpresa incrementando, assim, ainda mais a emoção e a conexão com os fãs de longa data. Por fim, o breve mas divertido romance entre Fig (Alysia Reiner) e Caputo (Nick Sandow), com direito a uma espécie de redenção para Fig, que se revela finalmente muito mais do que uma executiva fria e distante. Há espaço também para mais um perrengue para o bravo Caputo que tem que lidar com um fantasma do passado que ele – em seu mundo “macho-normativo” – sequer sabia que existia (e aqui temos mais uma licença para flertar com a realidade).

Chegamos à vez da Piper (Taylor Schilling) que, fora da prisão, luta mais uma vez por se ajustar. Depois de relegada à missão de organizar aquele fatídico kickball da sexta temporada, temos um arco dramático que vale acompanhar. Seus inevitáveis tropeços mostram que ela reluta em abandonar sua inconsequente e pseudo-ingênua persona do começo da série. Sim, ela ainda é tratada como protagonista mesmo que sua narrativa agora pareça apenas um trampolim para o drama de Alex (Laura Prepon) que ficou na prisão. Ainda precisando de “sacodes” para se aprumar, a “Piper liberta” demora a perceber que precisa se agarrar às experiências únicas da “Pier detenta” para sobreviver com o mínimo de sanidade. O final de Piper pode não ser o que muitos esperavam ou pode mesmo nem ser o mais arrebatador mas é definitivamente um dos poucos finais que podemos considerar coerente e, melhor, justo.

Mais uma vez – e para a surpresa de absolutamente ninguém – a estrela da temporada é Taystee (Danielle Brooks). Ela navega por mais núcleos que as demais, interfere em suas tramas e nos tira o fôlego por mais de uma ocasião. Seus conflitos são transparentes e estão mais intensos do que nunca. Vemos mais uma vez uma personagem simples e sólida, em sua extrema humanidade, com os erros e acertos, forças e fraquezas, explosão e apatia, tudo isso sem ser exagerada. Apenas humana. Mais um banho de interpretação e um deleite para os fãs. Para mim, Taystee encobre qualquer deslize dramático dessa temporada e merece todos os aplausos.

Foram muitos os acertos de Orange Is The New Black. Além de ser uma das pioneiras nesta já não tão nova forma de consumirmos entretenimento, a série conseguiu ser inclusiva, diversa, crível e impactante. Provocou belas reflexões ao mostrar diversos lados de uma mesma história e, não obstante ter terminado na hora certa, certamente sentiremos saudades de todo esse estrogênio. Em tempo: para quem gosta de detalhes, não pule a abertura do último episódio cheia de surpresinhas.