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O desfecho de série “Better Call Saul” correspondeu para além das expectativas do desfecho da primeira metade desta derradeira temporada. A jornada de transformação de Jimmy McGill para Saul Goodman nestas seis temporadas foi caudalosa e meticulosamente construída através do ótimo arco dramático criado por Vince Gilligan, e atingiu tanto os fãs da série anterior – “Breaking Bad” – como também espectadores com olhar mais apurado aos elementos de linguagem cinematográfica.

De longe “Better Call Saul” é a série mais robusta em termos de mise en scene, sem perder a qualidade narrativa tradicional e já aclamada de Gilligan na TV americana. O cruzamento dos arcos do golpe de Saul/Kim e o de Lalo investigando Gus Fring do fim da primeira metade da temporada se conclui num arcabouço de tensão crescente característica da franquia “Breaking Bad” logo no início da segunda metade, e a partir dali se concentra na vida de Saul pós-Breaking Bad esteticamente concebida na fotografia em preto e branco que poderia até ser traduzida como a pobreza dominante da alma daquele protagonista, consumida pela ganância.

Neste sentido, os efeitos dramáticos deste início da segunda metade da temporada em Kim merece destaque, como o grande resquício de ser humano que ainda permanece naquele golpista que se esvai com as consequências drásticas do golpe que acarreta na morte do ex-colega deles. Em busca da paz de espírito, Kim se elimina numa vida pacata e tediosa longe de Saul, e apenas entende que a redenção só viria fazendo aquilo que os advogados deveriam buscar primordialmente: a justiça.

Com isso, Saul é desmascarado em meio a uma retomada do ciclo vicioso de golpes que Saul vive desde a juventude, como uma doença, e onde se determina a morte de Saul Goodman e a retomada do que poderia ter sido o Jimmy McGill, agora preso. A conclusão por uma dura redenção é premiada com o reestabelecimento do elo deste fraturado e controverso protagonista com sua parceira através de seu ritual envolvendo cigarro, agora na cela de McGill.

Gilligan prova pela segunda vez seu talento em fotografar personagens falhos e dominados pelo mal da ganância, e desta vez acerta demais na profundidade dramática que envolve a saída por um final triste mas aberto a uma nova perspectiva, um olhar otimista acerca da reversão do ser humano para algo melhor. O recurso narrativo do que Saul faria se pudesse voltar no tempo, num momento com Mike, e em outro momento com Walter White, pondera em linguagem cinematográfica o que realmente Saul faria se pudesse voltar no tempo, no seu derradeiro julgamento. Ele certamente nunca deixaria de ser Jimmy McGill, e valorizaria mais as coisas que realmente importam na vida, para além do dinheiro.