Quando a Netflix ano retrasado lançou a série “Mindhunter”, adaptada de livro com o mesmo título de John Douglas e Mark Olshaker, com a benção do diretor David Fincher na produção, os fãs de filmes de suspense psicológico vibraram.
A história de dois agentes do FBI que no fim dos anos 70, criam um departamento de investigação de crimes sob o viés de padrões psicológicos obtidos através de entrevistas com grandes assassinos em série presos, com a finalidade de melhorar a prevenção desses crimes futuramente.
A primeira temporada nos apresenta, em conjunto com os protagonistas, as nuances dos métodos de abordagem e o que vale colher das figuras doentias encarceradas, que relatam suas experiências chocantes sob nosso viés de espectador não habituado, todos baseado em casos e depoimentos reais.
Vale destacar também o casting excepcional de atores nesta série, com semelhanças a notórios assassinos, e demais atores não sendo tão conhecidos do grande público, trazem um ar significativo de realismo, associado à sua fotografia acinzentada e crua.
Já a segunda temporada dá um passo além dentro do arco narrativo na série, trazendo também a profundidade dramática dos personagens que protagonizam a série para dentro das abordagens das novas entrevistas, a valorização do trabalho deles perante o governo (e as implicações que resultam dessa maior visibilidade), e também na trama central desta temporada, que é o auxílio do FBI ao caso das crianças negras desaparecidas em Atlanta.
Os diretores dos episódios são muito bem selecionados, principalmente na segunda temporada, onde cada um deles traz sua assinatura para seus episódios: por exemplo, David Fincher investe na sombra e planos mais abertos quando mostra a entrevista do assassino Berkowitz.
Já o diretor Andrew Dominik aponta para um posicionamento da câmera mais abaixo da linha de visão de Charles Manson, dando real peso ao que significava aquele contato dos protagonistas com um dos mais famosos serial killers da história dos EUA.
Por fim, temos o toque de Carl Franklin, diretor veterano e negro de séries de TV, numa fotografia mais amarelada e marrom do cenário e viés semi-documental quando aborda o caso das crianças em Atlanta.
O roteiro e o desenvolvimento dos arcos dramáticos da série são bem definidos, presentes e com bastante sinergia ao teor das entrevistas abordadas na linha do tempo real. O agente Holden Ford (Jonathan Groff) tem a maior parte de seu desenvolvimento na primeira temporada, com sua obstinação e sinergia com os entrevistados tendo um limite cada vez mais tênue, próximo e perigoso, tendo a segunda temporada com ele vivendo as consequências desses atos.
Já o agente Bill Tench (Holt McCallany) e a psicóloga Dra. Wendy Carr (Anna Torv) possuem maior destaque e desenvolvimento nessa segunda temporada, o primeiro envolvendo problemas familiares com o envolvimento do seu filho adotado em um crime local, e a segunda na questão do seu empoderamento afetivo e profissional dentro do que deseja para ambas as partes de sua vida naquela época.
Por fim, a opção de construir o personagem do grande antagonista da série, o serial killer BTK, mostrando homeopaticamente, de forma lenta a cada introdução dos episódios, a construção dos métodos do psicopata e o detalhamento de seu perfil em cima do que vamos vendo a cada passo dado pelos agentes em busca de entender a mente criminosa, se mostra um meio muito acertado na escalada de tensão na história da série, e o que espera os protagonistas na próxima temporada caso seja renovada.
1ª temporada – 9,0
2ª temporada – 9,5