"Avatar: O Caminho da Água" (2022), de James Cameron
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9.6

Onde: Cinemas

 

“Pocahontas”. “Smurfs gigantes”. “Dança com lobos alienígena”. Não faltaram comparações ofensivas para Avatar, de 2009. Acontece que o “falem mal, mas falem de mim”, também foi parte do sucesso arrebatador do filme, que cravou quase 3 bilhões de dólares em bilheteria. O sucesso do filme na primeira semana foi ok, porém o papo entre as pessoas, principalmente sobre o 3D, fez com que a aventura de Jake Sully e Neytiri virasse um verdadeiro fenômeno.

Agora, 13 anos depois, a primeira sequência (das quatro programadas) estreia nos cinemas com a missão: é possível revolucionar o cinema novamente?

A verdade é que, se Avatar: O Caminho da Água não traz essa revolução, pelo menos ele prova que o primeiro filme é sim uma obra que pode ser superada. E James Cameron deixa o primeiro filme para trás em praticamente todos os aspectos.

Não dá para falar de Avatar, sem falar de tecnologia. Na última década, a captura de movimento e o CGI fotorrealista tiveram grandes exemplos no cinema: Thanos, na Marvel, César, em O Planeta dos Macacos e o King Kong da nova saga de Godzilla. Todos eles, é preciso dizer, possíveis graças a técnica criada por Cameron no primeiro Avatar.

O Caminho da Água extrapola tudo que já vimos até hoje, seja na criação de personagens ou de cenários digitais. Antes da metade do filme, estamos tão imersos naquele mundo, que a nossa mente já vê os Na’Vi e a fauna e flora de Pandora como algo real. Os novos cenários aquáticos, assim como as novas criaturas que povoam esse ecossistema, são ainda mais incríveis que os terrestres do primeiro filme. Há um cuidado na movimentação de casa um, no reflexo da luz na água e nas texturas de todos os elementos, que são simplesmente indistinguíveis de reais ou computação.

 

A luz é mais um grande avanço aqui. Cameron trabalha bem os dias ensolarados e a dimensão que eles conseguem dar ao cenário. Entretanto, é na noite e na iluminação feita, seja pelas estrelas, pela biodiversidade luminescente ou pelo fogo, que vemos um salto incrível na tecnologia. É possível ver detalhes. O reflexo caminha de acordo a forma em que sobrepõe e a ação é nítida e fluida.

Assim como no primeiro Avatar, Cameron acerta muito na imersão do espectador em Pandora. Se no primeiro filme, ele segue o clássico passo do forasteiro que gosta da natureza, que entende a espiritualidade, se apaixona e então se torna parte daquilo, aqui ele nos joga por todo o primeiro ato no terreno que conhecemos, a Pandora do primeiro filme, a floresta, os animais e os Omaticaya, tribo de Neytiri. Não é à toa que o diretor dá ênfase às naves humanas queimando o cenário que entendemos e nos afeiçoamos ao final do filme de 2009. Ele quer acertar no peito da gente.

Jake e Neytiri vivem com os filhos e precisam fugir quando um inimigo chega próximo demais deles. É aí que começa a jornada de Cameron para nos apresentar um outro lado de Pandora, o aquático, e a nova tribo, os Metkayina, claramente inspirada nos povos da Polinésia. Com estrutura corporal diferente, que os ajudam a viver nesse ambiente, os Metkayina vão ensinar a Jake e família o tal “caminho da água”.

Há cenas deslumbrantes no novo local. Há uma perseguição com um dos filhos de Jake, toda subaquática que deixa o espectador colado na cadeira. Logo depois, Cameron nos coloca numa situação de amizade de embasbacar até o mais sério. Esse parece o grande papel do filme, assim como foi o primeiro: nos deixar extasiados com aquilo que estamos vendo. É como estar num parque de diversões por 3h10. Sem o lado pejorativo que os parques ganharam nos últimos anos, quando relacionados ao cinema, óbvio.

A história de Avatar 2 é mais bem trabalhada e polida que a do primeiro, assim como os seus personagens principais. A adição dos filhos, adotados ou não, de Jake e Neytiri é ótima para dar continuidade na série, assim como os líderes dos Metkayina, interpretados por Kate Winslet e Cliff Curtis.

Entretanto, mesmo superando o original quanto ao roteiro e desenvolvimento da história, também é nesse aspecto que Avatar: O Caminho da Água tem seus grandes deslizes.

O primeiro, e talvez o maior, é o vilão Quaritch, que retorna de uma forma bem mal explicada para Pandora, agora na forma de um Na’vi com as memórias do coronel do primeiro filme. O problema: a motivação dele é a mesma. Caçar e matar Jake Sully. Ou seja, ao todo, estamos vendo o mesmo personagem, por quase seis horas, fazer o mesmo em dois filmes. Isso não é novidade na filmografia de Cameron. Em Exterminador do Futuro 1 e 2 temos exterminadores tentando matar os personagens pelo mesmo motivo. Entretanto, a subversão de que o assassino do primeiro, se torna o salvador no segundo e é menos eficiente/tecnológico que o vilão, muda tudo na história. Quaritch é só o mesmo personagem em dois corpos diferentes.

Zoe Saldana é ótima como Neytiri, mas a personagem simplesmente some por boa parte do filme, ao contrário de Jake, que está sempre presente. Se a temática da família se faz presente ao longo do filme, deixar a mãe e Na’vi “original” de fora, não é uma boa escolha.

Outro problema em Avatar 2 é que, com a distância de 13 anos entre os dois filmes, James Cameron praticamente reboota o primeiro em diversas cenas. Vemos as mesmas situações, as mesmas reações e as mesmas explicações. Para quem está vendo o filme como uma novidade, isso não vai atrapalhar, mas para quem viveu a época e já assistiu Avatar algumas vezes, a repetição supera a autorreferência.

As repetições levam ao último porém do filme que é a duração. É incrível estar naquele mundo, mas os 190 minutos pesam, principalmente se você estiver usando o pesado óculos 3D dos Imax.

Aliás, muito se discute sobre como ver o novo filme e qual a melhor sala. Bom, a melhor sala é a que você puder ir. Assim como Top Gun: Maverick, esse é um filme para ser visto no cinema. Agora, se você puder escolher, dê preferência para o 3D e para salas com grandes telas e um bom sistema de som. O filme é feito para isso.

 

Avatar: O Caminho da Água é tudo que esperávamos da sequência do filme de 2009 e muito mais. É um filme sobre família, com a magia de James Cameron. Se ele contou Romeu e Julieta em um navio afundando, o amor da mãe pelo filho em uma ficção-científica e um conto ambientalista na maior bilheteria de todos os tempos, agora ele fala sobre o poder que une a família, o amor, a compreensão e, principalmente, a aceitação do outro. Nada mais atual do que isso. Nada mais moderno, lindo e um espetáculo visual impressionante do que Avatar 2. James Cameron acertou de novo.