“Collective” (2019), de Alexander Nanau
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9.6

A incrível obra romena de Alexander Nanau nos ensina como o bom jornalismo é essencial para a população. Carregado do melhor que o jornalismo investigativo pode oferecer, inclusive com ameaças e denúncias correlatas, o filme lembra a excelência vista em “Todos os homens do presidente”, de Alan Pakula (1976) e “Spotlight”, de Tom McCarthy (2015). A qualidade na montagem de Nanau dá ritmo e coesão a uma das maiores tragédias recentes do país europeu que levou à luz um absurdo escândalo de corrupção em todo seu sistema de saúde.

A produção acompanha de maneira intimista e assaz triste tudo aquilo que se seguiu após o incêndio na boate Coletiv, em outubro de 2015, na capital Bucareste. Foram 27 mortos no local e 180 feridos. A edição é surpreendente. Ao pensarmos que o enfoque do filme seria a noite do terror, Alexander Nanau direciona a lente para os que morreram nos 4 meses seguintes enquanto se recuperavam nos hospitais romenos: 37 pessoas. Vidas ceifadas por infecção hospitalar em sua maioria.

É certa a sofrível lembrança com o nosso horror na boate Kiss, em Santa Maria (RS), em 2013 (242 mortos). Deixa nossa experiência mais aterradora. O diário esportivo – Gazeta Sporturilor – com seu jornalista Catalin Tolontan, consegue, por meio de apurações severas que devastam o espectador, trazer o assunto nacional ao escopo mundial. Ele descobre que medicamentos e produtos hospitalares causavam a morte de muitos dos sobreviventes da boate. Esse documentário – aula de jornalismo sublime – é essencial aos nossos olhos atuais.

Por toda a película acompanhamos uma sobrevivente da Coletiv e isso nos faz lembrar do início de tudo. Em pararelo, jornalistas desvendaram que hospitais tidos como modelos sequer tinham condições de cuidar de queimaduras. O importante papel da imprensa foi notável àquela democracia ao cravarem que políticos e empresários se enriqueciam construindo um sistema nefasto de saúde na Romênia. Muita verba estatal ia para clínicas particulares em países vizinhos. A prática era longeva e viciosa. Cerca de 350 hospitais faziam parte de uma rede fatal de corrupção.

A lente de observação do ótimo Alexander Nanau não é isenta de escolha de lado. Mas ele consegue o que se propõe em sua premissa: mostrar a corrupção lancinante em sua exibição de exímias averiguações. Ele coloca em suspeição, por exemplo, a morte de um grande empresário investigado pela Justiça. Dan Condrea morre no dia em que iria depor sobre o envolvimento de sua empresa com a Saúde romena. Seria possível termos uma imprensa que se preocupa com o ser humano e que informa e revela? A obra chega ao Oscar 2021 credenciada e já laureada com o European Film Award.