TENET (2020), de Christopher Nolan
8Pontuação geral
Votação do leitor 7 Votos
9.3

Onde: cinemas

Uma produção gigantesca, vários países, um roteiro ousado e mais um experimento imersivo envolvendo o tempo: eis “Tenet”, a nova obra do fantástico e sempre original Christopher Nolan. Nesta produção de espionagem, transitamos pelo estilo “James Bond”, e por muito do que Nolan já nos apresentou.

Seguimos um agente internacional designado por uma organização desconhecida para a seguinte missão: impedir que um egoísta vilão – Andrei Sator – destrua o globo numa iminente Terceira Guerra Mundial. Nolan, em sua mis-en-scène, emula o Armagedom o filme inteiro. Em Tenet, de maneira simples, grifo que importantes elementos narrativos trilham caminhos invertidos no tempo. Caminhos já traçados (pré-determinados). Devido a um algoritmo potente criado no futuro, é possível realizar esta inversão no tempo. Inversão; não viagem. É importante em certo momento da obra usar de pensamento não linear, como ocorre no excelente “Primer” (2004), de Shane Carrurh.

As sequências de ação são espetaculares. Nolan não utiliza computação gráfica. Efeitos são práticos. Somos convidados a imergir num cinema de ação e ficção pela habilidade das mãos do diretor. Cinema sem CGI também faz bem aos olhos. A cena de abertura num teatro em Kiev é formidável, assim como a destruição de um avião em Oslo. A estimulante trilha de Ludwig Göransson tinha tudo pra jogar o espectador para dentro da telona por toda a obra. Mas ela é um tanto alta e pode incomodar.

Nolan está muito seguro brincando com quase todas as suas obras. A narrativa exige muito do atores para que ditem e tentem pontuar a originalidade do diretor. “O que aconteceu, aconteceu” é dito mais de uma vez em tela. A tentativa de explicar certos pontos da termodinâmica não diminui a obra. As cores vermelha e azul, por exemplo, são extremamente importante pro que a trama sugere.

O texto de Nolan reserva a John David Washington uma atuação com destreza, sendo um agente sagaz e hábil, praticamente um 007 num filme um tanto metafórico com o servidor da Rainha. Temos uma competente Elizabeth Debicki, numa importante personagem ao mote do filme e à maldade contraposta pelo vilão Kenneth Branagh. Este não cativa. Sua motivação é rasa e depende do quanto o espectador compra de seu motivo de aniquilação do planeta. Quem engole o filme é um Robert Pattinson (o acertado próximo Batman de Nolan) versátil, inteligente, sereno, consciente e perspicaz.

Nolan nos instrui a abraçar o roteiro e sentir o filme. “Sentir uma experiência Tenet”, diz o diretor. Funciona. Ainda desta forma, o que atrapalha um pouco do que a dramaturgia nos propõe é o tempo que ele gasta tentando nos explicar a premissa da obra com certa plausibilidade. Mesmo que este tempo usado faça parte – calculadamente – do experimento Nolan. Foi assim em “Amnésia”, “A Origem” e “Interstellar”. Apesar do quebra-cabeça, vale revisitar “Tenet” mais vezes. Sua experiência pode melhorar.