DESTERRO foge de tudo que você possa se preparar para assistir. É um daqueles filmes que te guia por caminhos completamente instigantes e inesperados.
Como história central, temos o casal Laura (Carla Kinzo) e Israel (Otto Jr.), que vivem às sombras de um relacionamento já inexistente, traduzido pela apatia e ambientação acinzentada.
Laura rompe essa inércia ao sair de casa rumo à uma jornada pessoal, através da qual tem seu caminho atravessado por outras existências. À parte, acompanhamos Israel, obrigado a lidar com as consequências – burocráticas e emocionais – resultantes das atitudes de Laura, que inevitavelmente respingam sobre ele.
Maria Clara Escobar apresenta uma direção ousada ao contar a história de forma não linear, através de cortes e enxertos de cenas, que resultam em um trabalho de pesquisa louvável, sobre a jornada da nossa existência e sua transitoriedade, os decorrentes encontros e desencontros – conosco e com os que nos cercam.
Advinda do documentário, a diretora pinta e borda de forma inteligente com sua câmera intimista, captando o âmago da busca humana pelo existir.
Através da inserção de recortes de cenas e relatos extraordinários de personas (sem nome e/ou prévio histórico), o filme garante a identificação pessoal do público com o que está sendo contado.
Importante destacar que o roteiro conta com a colaboração de pesquisa própria do elenco, formado por ótimos nomes do teatro e cinema nacional (Carla Kinzo, Grace Passô, Georgette Fadel, Sara Antunes, Bárbara Colen, Isabél Zuaa, Otto Jr.), o que transpõe a DESTERRO a humanidade, intimidade e coletividade, características de uma obra autoral.
“Talvez pela escolha ousada da narrativa, o filme não se identifique com o público geral”. Esse argumento tem sido reverberado críticas afora. Mantenho as aspas por discordar de tal análise. Mesmo reconhecendo o refinamento estético utilizado pela diretora, acredito que a universalidade do tema ultrapassa quaisquer barreiras narrativas, sendo difícil se manter inerte ao filme.
Dito isso, é filme para embarcar e se deixar transformar pela jornada.