John Singleton, diretor, roteirista e produtor, faleceu na última segunda-feira vítima de derrame cerebral. Nascido em Los Angeles, construiu sua filmografia essencialmente retratando as implicações da violência da sua cidade natal em seus primeiros filmes, cada um em diferentes abordagens.

Sua estréia é considerada pela grande maioria como seu melhor filme, “Os Donos da Rua” (1991), pelo qual foi indicado a dois Oscars na época, sendo um deles como melhor diretor, o que garantiu seu nome na história como o primeiro diretor afro-americano a ser indicado ao prêmio (e até hoje ainda é o mais novo afro-americano indicado nesta mesma categoria).

“Os Donos da Rua” (1991)

O filme segue a vida de três jovens do gueto de Los Angeles, cada um com suas aspirações de vida, e que enfrentam no seu dia-a-dia o racismo institucional, as dificuldades sociais, e a relação intrínseca e direta destas condições com a violência em suas vidas. O filme na época e ainda hoje é reconhecido como um dos melhores que retratam a condição do negro nos Estados Unidos, após o sucesso de críticas em cima de “Faça a Coisa Certa”, de Spike Lee.

Clipe “Remember the Time” (1992)

Após a repercussão de “Os Donos da Rua”, Singleton rodou (não-creditado) o clipe da música “Remember the Time” (1992), de Michael Jackson, e seguiu dirigindo filmes menores mas seguindo a mesma linha temática, como “Sem Medo no Coração” (1993), “Duro Aprendizado” (1995) e “Massacre em Rosewood” (1997), até ser convidado para dirigir “Shaft” (2000), uma releitura de pouco sucesso do clássico do blaxploitation dos anos 70 protagonizada por Samuel L. Jackson.

“Shaft” (2000)

Após “Shaft”, Singleton voltou às origens dirigindo o mediano “Baby Boy – O Rei da Rua” (2001), protagonizado pelo ator mais conhecido pelo seu papel na franquia “Velozes e Furiosos”, Tyrese Gibson, o que talvez possa ter aberto as portas para o diretor no mainstream de Hollywood, ao aceitar dirigir “Mais Velozes Mais Furiosos” (2003), que fez sucesso de bilheteria como os demais, mas ainda não havia resgatado seu melhor momento.

“Mais Velozes Mais Furiosos” (2003)

Porém, ele se manteve nas grandes produções de Hollywood, e volta a acertar com o ótimo drama policial “Quatro Irmãos” (2005), protagonizado por Mark Wahlberg e que também tinha Gibson no elenco, na história de quatro irmãos adotados que resolvem vingar a morte de sua mãe num assalto à mão armada, que alcançou razoável aceitação pela crítica.

“Quatro Irmãos” (2005)

Após um considerável intervalo de tempo ele voltaria a dirigir no filme “Sem Saída” (2011), um fracasso de crítica e público que seria seu último longa-metragem, seguindo sua carreira de diretor em episódios específicos em séries e minisséries como “Empire”, “American Crime Story – O Povo contra O. J. Simpson” e “Billions”.

John Singleton surgiu com uma obra imprescindível no cinema, e sempre teve um olhar crítico apurado quando se tratava de retratar sua amada Los Angeles por uma lente que a maioria se recusava a olhar, referenciando junto com Spike Lee seu cinema para uma nova geração de cineastas negros que hoje está no auge, como Jordan Peele, Ryan Coogler, Dee Rees, entre outros.

RIP John Singleton (1968 – 2019)