O cantor e compositor mineiro Fernando Mascarenhas ex-Paquederme Escarlate, acabou de lançar seu primeiro álbum de estreia “Dizperto”, com uma vibe que deixa uma terna referência a Era de Ouro dos Discos. Com forte influência de Leo Borges, Milton Nascimento e o Clube da Esquina, o disco navega por ondas sonoras da Bossa Nova, MBP, Jazz, Blues e até mesmo a Eletrônica evidenciada pela bateria eletrônica nas faixas do álbum. Isso sem deixar de lado o Rock e o Indie Pop.
Como o próprio nome do disco sugere, as canções passam de forma intimista e lírica o sentimento de um despertar pessoal e ao mesmo tempo que abre para o coletivo e social. As letras abordam temas sobre saudade, solidão, ausência e impetuosidade política. Fernando, conseguiu diluir suas raízes musicais em um conjunto de canções que foram projetadas para que o álbum seja digerido por inteiro. Como se uma canção complementasse a outra.
Dizperto abre com uma faixa densa e meditativa, “Dia 37” que conversa abertamente com esse sentimento árido de viver em quarentena. Uma ode à solidão e ao distanciamento social. Uma canção com forte influência do Jazz que faz uma homenagem à Arnaldo Baptista, que é uma grande referência musical para o cantor. “Bilhete” é a faixa mais agridoce do álbum que mais traz elementos do Pop. Uma balada de amor inspirada em bandas como Oasis e os conterrâneos do Skank.
O teor político e o sentimento de revolta ganha elucidação com a canção “A Barragem”, um canto de manifesto político, urgente e muito necessário. A faixa aborda em seu contexto o descaso com as vítimas e familiares, dá tragédia do rompimento das barragens em cidades de Minas Gerais em 2015 e 2019.
Com um olhar poético sobre o cotidiano Fernando Mascarenhas retrata de forma precisa a atmosfera musical dos anos 60, quando os Beatles e os Beach Boys, lançaram discos memoráveis. Dizperto foi concebido com elementos harmônicos totalmente equilibrados para trabalharem como um só. O disco também traz referências a literatura filosófica na faixa “Cão” que possui uma arquitetura introspectiva influenciada pelo Rock Progressivo. A faixa soa como uma opera que se divide em partes com camadas psicodélicas que hipnotizam o ouvinte. A inspiração para música veio do escritor George Orwell e seu romance “A Revolução dos Bichos”.
Um disco produzido de forma tradicional, sem grandes estúdios por perto. Algo que intensificou a atmosfera caseira e intimista do disco. O que traz a obra para mais perto ainda do lado pessoal. Refletindo o sentimento de inúmeros brasileiros.