Avaliação Hybrido
10Nota do Autor
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9.8

Apresentado ao público com seu filme anterior com ares de fantasia “Border” (2018), vencedor da mostra Un Certain Regard em Cannes na época, Ali Abbasi parte para uma pegada mais crua e realista em seu novo filme “Holy Spider”, indicado à Palma de Ouro em Cannes este ano, e vencedor do prêmio de melhor atriz no mesmo festival.

Em “Holy Spider” Abbasi traz um debate de sociedade da Jordânia, de forte linha conservadora e religiosa e que atinge principalmente as mulheres em seus diferentes graus, desde as vítimas do serial killer que se denomina Spider, como a protagonista, uma jornalista investigativa disposta a encontrar a identidade deste serial killer, mesmo que o sistema esteja todo contra ela.

Abbasi faz um cenário duro e bem violento, nos colocando logo na introdução no dia de uma das vítimas para sentirmos o terror daquelas mulheres, que vai se expandindo ao longo da investigação da protagonista por sentir o mesmo de outros homens, civis, policiais e o próprio assassino – que o diretor vai pintando como um civil conservador tradicional daquela pequena cidade, e traz com ele um discurso de como funciona a honra naquele vilarejo, principalmente entre ex-oficiais do exército.

A parte final do filme, que envolve a prisão e julgamento do serial killer, nos aprofunda em outra camada sobre como tudo aquilo vivido pelas vítimas e principalmente pela protagonista – que se coloca em risco para alcançar aquele assassino – que é a validação da sociedade a todo aquele conjunto de comportamentos sociais, seja oficial, seja extremado ou seja meramente de aparências (como por exemplo mulheres legitimando o ato de um homem matar várias mulheres em nome de uma ética religiosa).

Abbasi não poupa o espectador ao longo do filme, e constrói uma mise en scene desoladora sob o ponto de vista de sua protagonista representando a mulher dentro de um sistema conservador, num filme que acaba expandindo a discussão sobre os efeitos de um Estado de extrema-direita legitimado por valores religiosos e calcados no preconceito e opressão, trazendo a provocação da arte através da violência ao longo desta narrativa.