Lilianna Bernartt“Contatado”, terceiro longa de ficção da diretora Marité Ugás, segue a história de Aldo (Baldomero Cáceres), um ex auto proclamado profeta denominado “Ademar”, que revisita seu passado após encontrar Gabriel (Miguel Dávalos), um jovem seguidor que o convence a voltar a pregação.
Após anos de reflexão e isolamento em uma bolha de anonimato construída “por” e “para” si, a medida em que a vaidade predomina, Aldo vai dando espaço para o retorno de “Ademar”, e as reais intenções de seu fervoroso seguidor vão se clareando.
Em uma sociedade pautada pela grave desigualdade, o filme questiona as seitas, o culto e a fragilidade do ser humano e sua necessidade em depositar no sobrenatural suas crenças como meio de validação para as mazelas provenientes do existir.
Assim, o protagonista embarca em uma luta egóica freudiana entre o consciente, o pré consciente e o inconsciente através do entrave entre “Ademar”: sua persona idealizada e alimentada pela devoção cega de seus seguidores versus “Aldo”: seu eu humano, dotado da dolorosa realidade acerca da insignificância de sua existência.
Como resultado dessa disputa, percebemos que às vezes, ter de encarar nós mesmos e as consequências de nossa própria existência e assumir a responsabilidade quanto a utilização de nosso livre arbítrio pode ser uma revelação tão ou mais difícil do que a superveniência de um feito sobrenatural.
A diretora Marité Ugás mistura linguagens cinematográficas que convergem a favor da narrativa, resultando em ótimas e interessantes sequências. Um desses ricos momentos é o mini documentário que o antagonista faz com seu celular, através da captação de imagens verticais de depoimentos reais de locais acerca dos fatos lúdicos propostos pelo enredo.
Contatado nos faz refletir acerca de nossa responsabilidade existencial – como indivíduos e como sociedade – e sobre os perigos de se terceirizar (de forma consciente ou não) a autonomia de nossas escolhas.
O filme é uma coprodução entre Brasil e Peru e faz sua estreia nos cinemas dia 13 de outubro.