MARISA MONTE - PORTAS (2021)
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6.5

Ela é talentosa. Uma das melhores cantoras do Brasil em atividade. Dona de uma discografia de peso contando com mais de 10 álbuns lançados. Já fez parceria com outros grandes artistas/bandas tais como Titãs, Adriana Calcanhotto, Nando Reis e Caetano Veloso, porém, foi com os músicos Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown que a cantora também se destacou com o grupo Os Tribalistas.

Marisa Monte também é daquelas cantoras que não se enraízam em apenas um único gênero. Trafegando por vários estilos (Pop, Rock, Samba, Jazz, MPB, R&B), essa foi uma das características que mais pesou no reconhecimento e amadurecimento da artista. É necessário ressaltar ainda sua voz inconfundível e a contribuição precisa do amplo instrumental de apoio (sopros, pianos, ukulelê, violinos, cellos, violas).

‘Portas’ chega depois de 10 anos. Num ano difícil, em meio a pandemia e num tempo em que a cantora não está tanto nos holofotes, lançar um disco de inéditas com 16 faixas e de longa duração pode ser arriscado. Mas a cantora tem seus trunfos, sua experiência, lida com a música para fazer que a música mexa com o ouvinte. Ouvir Marisa hoje em dia não tem tanta diferença da época de lançamento de début homônimo, lá de 1989. Mais de 30 anos decorridos não abalam a sonoridade da cantora que continua com sua diversidade, trazendo um álbum bem produzido e mantendo a poesia de suas letras.

“Praia Vermelha” segue pelo Folk rebuscado com detalhes relevantes como uma bela percussão e a flauta que se sobressai. Buscar o clássico/orquestrado e colocá-lo num formato Pop/Rock sempre esteve entre as características da cantora, não é por menos que “Totalmente Seu” cumpre esse papel. Como uma legítima brasileira, a latinidade e o samba correm na veia de Marisa. Em “Elegante Amanhecer”, a artista faz homenagem ao samba e aos carnavais citando a Portela (vale lembrar que a cantora já produziu ‘Tudo Azul’, álbum lançado pela Velha Guarda da Portela). “Você Não Liga” sobra em latinidade trazendo um ritmo bem funkeado.

As letras, outro destaque na criação musical da cantora, continuam mostrando a verve poética de Marisa, seu capricho com as palavras, como de praxe. Romantismo, cotidiano, a fragilidade da vida e até mesmo pensamentos positivistas rondam o álbum. Em “Espaçonaves”, que também teve a ajuda de Marcelo Camelo, a cantora fala de um tema sério sem soar piegas e canta: ‘Quando a solidão vem/Tem que se cuidar bem/Do que se tem na cabeça…’. Na faixa “Calma”, um dos destaques do disco, ela pede para termos delicadeza nos tempos atuais e nunca deixar a esperança de lado, dizendo: ‘Eu não tenho medo do escuro/Sei que logo vem a madrugada/Deixa a luz do sol bater na estrada…’

As colaborações reforçam o disco mostrando ainda mais o ecletismo de Marisa e seu poder de criar harmonia e interação com outros grandes artistas do cenário brasileiro. Marcelo Camelo colabora em três faixas: “Espaçonaves” (já citada anteriormente), “Sal” e Você Não Liga”. Cantada em sintonia com vocais femininos e masculinos, “Pra Melhorar” recebe a participação de Seu Jorge e de Flor (filha do cantor). A parceria rende uma faixa alegre pra sair cantando nas ruas com uma melodia grudenta na cabeça.

Gravado entre Outubro de 2020 e março de 2021, ‘Portas’ foi lançado em 1º de Julho, justo no dia que a cantora completou 54 anos de idade. Na soma final, ‘Portas’ acaba sendo um disco de mensagem alegre (até a capa revela essa atitude), uma produção para combater com inteligência a amargura desses dias tão incertos, tão pesarosos. Marisa consegue passar essa mensagem, sem perder a tradição de seus bons discos, sem fazer algo despreparado, jogando o talento e o coração em prol da música de qualidade.