Avaliação Hybrido
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Onde: Cinemas

 

George Miller certamente é um cineasta que impõe sua marca ao contexto histórico que está inserido quando realiza um filme. Já abordou em sua filmografia a violência (“Mad Max”), a questão do combustível (“Mad Max 2 – A Caçada Continua” e “Mad Max 3: Além da Cúpula do Trovão”), o empoderamento feminino e a importância da sororidade (“As Bruxas de Eastwick”), o lado frio da ciência versus o lado quente da fé familiar (“Óleo de Lorenzo”), a proteção dos animais (“Babe – Um Porquinho Atrapalhado”), a preservação do meio-ambiente (a franquia “Happy Feet”) e por fim a questão da escassez de água (“Mad Max: Estrada da Fúria”).

Em “Era Uma Vez Um Gênio”, Miller inverte a posição de uma história envolvendo o gênio da lâmpada, onde geralmente o protagonista conta uma história onde a escolha de três desejos se impõe, já que aqui a protagonista especialista em narrativas literárias interpretada por Tilda Swinton usa o contexto para destrinchar na verdade a história daquele gênio que se apresenta em seu quarto de hotel.

George Miller usa muito bem a fantasia e a montagem para entrelaçar o aspecto fantástico na história que deseja contar através do cinema, e apesar de várias e várias situações em que poderia escorregar pela descrição, o diretor australiano nos dá uma aula de cinema usando muito bem reações, objetos e contextos que insinuam uma conexão e sinergia entre o que a protagonista vive e o que o gênio viveu, e o quanto essas interseções definem o caminho dos desejos a serem realizados pela protagonista ao longo do filme.

O aspecto sóbrio e sem ânimo para as relações humanas que a protagonista apresenta são ao longo do filme o foco do gênio em superá-lo em nome do seu objetivo dela escolher três desejos, e aqui se aplica talvez o recheio que o arco dramático do filme aborda com muita riqueza visual e narrativa, que são as relações sentimentais entre as pessoas na contemporaneidade, e o caminho da protagonista ao seu final feliz se revela uma inteligente crítica à relação ao outro enquanto posse ou mero exercício narcisístico (vale observar uma sutil crítica aos efeitos do monopólio de narrativas de super-heróis no cinema atual através da palestra da protagonista no início do filme).

Se haviam desconfianças do que viria da mente de George Miller após o fantástico “Mad Max: Estrada da Fúria”, ele aqui mais uma vez nos coloca de ponta-cabeça com um interessante e reflexivo drama sem abrir mão da fantasia na sua forma de enxergar e praticar o cinema, com uma felicidade imensa de ter uma dupla de atores como Tilda Swinton e Idris Elba para sustentar sua leitura atualizada do mundo.