“Meu pai” (2021), de Florian Zeller
9.4Pontuação geral
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7.4

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Considerado um dos melhores escritores da atualidade, o diretor francês Florian Zeller realiza uma perfeita adaptação de sua própria peça teatral “Le Père” (2014) e extrai talvez a melhor atuação de todos os tempos do brilhante Anthony Hopkins. Calma. Ainda prefiro “Silêncio dos Inocentes” (1991). Mas aqui observamos uma obra simples, que gera discussões diversas acerca da senilidade. O espectador transita em variadas direções na mente do personagem – doente – de Hopkins.

Devido à excelência em edição e montagem de Yorgos Lamprinos, que trabalha bem a desorientação e a confusão mental do protagonista, mergulhamos juntos num relato fidedigno sobre a mente de um homem senil convalescente. A mis-en-scène não nos tira emoções rasas. Zeller e Lamprinos querem que conheçamos a realidade do personagem.

Numa atuação perfeita, voraz e tristemente assertiva, acompanhamos Anthony (tal qual o ator) adentrar num cenário assustador, caótico e devastador sobre demência senil. Florian Zeller é magistral. Adaptar teatro como ele faz é um deleite. É tudo dinâmico. Roteiro simples, mas cheio de camadas.

Aqui ele mostra um idoso que recusa assistência de sua filha, à medida que a saúde mental dele vai se deteriorando diante do espectador. Nossa fuga no filme são os olhos da filha – Anne – uma formidável Olivia Colman. Neste escape, seguimos a exaustão de Anne, um desgaste físico daquela que é o maior elo afetivo de Anthony com a vida. Minha memória me catapultava para minha realidade durante algumas cenas da obra. Não há problemas em vermos o idoso criar as realidades variadas que cercam seu estado. A falta de resposta de Anthony é que provoca reflexão.

Como vamos nos aproximar de alguém que não sabe qual realidade se vive? A obra pontua qual seria nosso engajamento com o idoso convalescente. Sufoca sabermos algumas respostas. O design de produção acentua isso tudo. O que é melhor ainda. Mudam o cenário e os personagens o tempo todo, de maneira crua como na memória do doente senil. Com 6 indicações ao Oscar, temos um filme sensacional, narrado de maneira simples (mesmo com o distúrbio), compreendido de forma aterradora.