“Morte. Morte. Morte.” possui um enredo aparentemente já conhecido: jovens, inconsequentes, bonitos, ricos, presos em um único espaço, no qual ocorrem eventos estranhos e mortes sem explicações. A falsa aparência de um mero slasher tradicional torna mais interessante a experiência de se deparar com um filme inteligente, ácido e refrescante.
O que garante frescor ao filme dirigido por Halina Reijn é justamente a crítica bem construída que permeia as personagens e a narrativa – que se desenvolve e se justifica por conta de uma comunicação frágil, tóxica e desconexa com a realidade, características da futilidade de uma geração educada sob a tutela de smartphones e redes sociais.
Não à toa, durante quase todo filme, o único guia das personagens em meio à escuridão é a luz de seus iphones e androids.
Por outro lado, o elenco se destaca pela diversidade e narrativa inclusiva: predominantemente feminino; com uma protagonista mulher, negra (Amandla Stenberg), de extremo poder aquisitivo e social; uma mulher estrangeira (Maria Bakalova), sem qualquer tentativa de neutralização de sotaque ou problematização quanto a sua nacionalidade; relações homoafetivas normalizadas, o que fortalece a discussão foco do filme, a partir da validação de que o preconceito étnico, de gênero, homofobia, são questões pretéritas a esta geração.
Espantosamente tenho acompanhado críticas direcionadas particularmente ao excesso de decote da protagonista ou ainda, a não utilização da questão imigratória como argumento para discussão e acusação entre as personagens, o que me leva a questionar a eficácia da crítica proposta pelo filme, porque apesar da acidez, a ambivalência do discurso humaniza as personagens e estende o tema a todos nós – espectadores e partícipes de uma sociedade como todo – se tivermos a soberba de não nos identificarmos em nada com a provocação sugerida pelo filme, então é melhor desligar os smartphones e partir.