“Loki” (2021), de Michael Waldron
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Se desde julho de 2019 não tínhamos conteúdos novos da Marvel, com todos os filmes adiados por conta da pandemia, 2021 chegou abrindo as portas para um caminhão de novos filmes e séries do estúdio. Já tivemos “WandaVison”, “Falcão e o Soldado Invernal” e “Viúva Negra”. Ainda teremos esse ano: « Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis”, “Eternos” e “Homem-Aranha: Sem Volta para Casa”.

Se pensarmos no futuro, são mais seis filmes já anunciados com datas até 2023, mais quatro sem datas e ainda mais NOVE séries dentro do MCU (Universo Cinematográfico Marvel). Não existe ninguém hoje em dia produzindo tanto conteúdo como o Marvel Studios. E Loki abriu a porteira para o futuro da Fase 4 do estúdio: o Multiverso.

E aí talvez esteja o grande problema de Loki: a promessa dessa grande expansão do MCU através do Multiverso. A obrigação da série em explicar os novos conceitos, que por si só já são mais complicados, tornaram a série uma grande montanha russa de altos e baixos.

Começamos a temporada na última aparição de Loki no MCU: escapando com o Tesseract durante a missão dos Vingadores em voltar no tempo, para a Batalha de Nova Iorque, em Ultimato. Assim que foge, o Deus da Trapaça é capturado por agentes da TVA, agência que controla uma linha do tempo universal e não deixa que ramificações e novas linhas do tempo surjam. Na TVA, Loki é cooptado a participar de uma investigação sobre uma variante (versões de uma mesma pessoa em outras linhas temporais) que estaria viajando pelo tempo e matando agentes da TVA. Não tarda, Loki descobre que a variante é dele próprio e uma mulher.

Tecnicamente, Loki é um primor e a série com mais cara de cinema do MCU. O design de produção da TVA com uma estética retrô futurista é incrível e lembra os sets de “Os Incríveis”. Os outros cenários por onde passamos são igualmente bem construídos, desde o planeta Lamentis, com um apocalipse em curso, até o Vazio, responsável por um episódio cheio de easter eggs do universo Marvel dos filmes e quadrinhos, todos são fantásticos, com efeitos especiais de blockbuster.

Entretanto, é no texto e no ritmo que Loki se perde. Com apenas seis episódios, todos na faixa de 40 e poucos ou 50 minutos, a série precisa ocupar muito tempo para explicar todas as questões envolvendo viagem no tempo, ramificações do tempo e o multiverso em si. O segundo episódio é inteiro para explicar toda essa situação, como se esconder da TVA na linha do tempo e suas consequências. Se isso fosse restrito nesse episódio e depois seguíssemos a aventura, ok. Mas a série volta toda hora nos mesmos conceitos, os personagens sempre estão falando das consequências e explicando toda a questão novamente. Além disso, alguns deles, principalmente Loki e Sylvie, têm sua jornada mal desenvolvida, os propósitos se adequam ao que a trama precisa e o protagonista acaba virando um espectador dentro da sua própria série.

O carisma de Tom Hiddleston ainda é cativante e a dupla com Sophia Di Martino funciona muito bem. Além disso, a parceria de Hiddleston com Owen Wilson é um achado dentro do MCU. Há bons coadjuvantes com Gugu Mbatha-Raw, Wunmi Mosaku e participações especiais que só melhoram os episódios, como Richard E. Grant e Jonathan Majors. Esse último, praticamente protagoniza o episódio final de forma incrível.

Entre WandaVision, Falcão e o Soldado Invernal e Loki, essa terceira empreitada do MCU no Disney Plus é o menos sólido, mas também o mais importante para o futuro do Marvel Studios. Com o Multiverso escancarado ao final da temporada e as linhas do tempo expostas, a loucura deve tomar conta de produções como “Homem-Aranha: Sem Volta para Casa” e “Doutor Estranho no Multiverso da Loucura”. Filmes que antes não eram da Disney, como Deadpool e X-Men, agora podem ser inseridos nessas linhas temporais sem problema.

Uma galera está reticente com essa introdução do Multiverso. Alguns cravam até o início do fim do MCU. E isso é uma baita besteira. Kevin Feige e a equipe do Marvel Studios conseguiram administrar mais de 20 filmes na Saga do Infinito. E se, lá no início, era estranho ver filmes se encontrando e referenciando, o Multiverso é um novo passo para o futuro dos filmes de super-heróis. Goste ou não dos filmes, ninguém pode falar mal do planejamento de Feige e equipe.

Com um final digno de “O Planeta dos Macacos”, Loki empolgou mais em seus 40 minutos finais do que nos cinco episódios anteriores. Fica o gosto de quero mais. Entretanto, sem a necessidade de ser mais um grande evento que vai mudar tudo no MCU. A Marvel sabe fazer muito bem esses grandes eventos, como em Guerra Infinita e Ultimato. Mas também acerta muito quando faz tramas menores, fechadas no seu próprio espaço e tempo.

No final das contas, Loki tropeça em suas próprias armadilhas, mas tem potencial para (mais uma vez) passar a perna nas adversidades e brilhar na já anunciada segunda temporada.