Mudbound, lágrimas sobre o Mississipi” (2017), de Dee Rees
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A obra da diretora Dee Rees trata de algo inúmeras vezes contado, assunto já bem abordado; porém a quantidade de histórias assertivas que o cinema nos mostra e que surgem desse flagelo chamado racismo é inesgotável. Ainda mais no Mississipi. E sempre necessitamos mergulhar profundamente nesse tema, revisitá-lo até que ele suma (impossível) da face da Terra. E, quando vindo de alguém como a incrível Dee Rees, é um deleite. Ela te emociona, te revolta, te deixa triste e também tenta te recompensar.

O elenco é fantástico. Bem trabalhado pela lente de Rees. Após a 2ª Guerra Mundial, dois homens do Mississipi retornam de suas funções para trabalhar numa grande propriedade e sofrem preconceitos imensos ao tocarem suas vidas. A todo momento se sente o recorrente perigo para a comunidade negra daquele local. Algo sufocante, principalmente quando o personagem de Jonathan Banks está em tela: um idoso violento carregado de todo preconceito raso possível. Como acontecia em “Mississipi em Chamas” (1988), de Alan Parker. O tom de iniquidade da primeira metade do filme é bem pontuado e passa a verdade da diferença entre todos atores ali presentes. Não apenas com os negros.

A desigualdade é copiosa. Seja na relação entre negro e branco, entre homem e mulher, de sucesso e de fracasso, de quem foi à guerra e quem não foi; a diretora exibe uma sociedade extremamente viciada e estigmatizada. A relação odiosa, mas igualmente sofrida e falha entre as figuras de Jason Mitchell e Garret Hedlung nos rendem um dos maiores deleites da película. A dramaturgia de Rees propõe uma espécie de redenção tardia, mas recompensadora. O simples ódio pelo ódio consegue nos fazer virar os olhos e ainda urge neste delicado assunto (mais uma vez sempre) com o intuito de nos desconstruir cada vez mais de formas diversas.

A obra se vale de momentos em que o silêncio fala mais que uma exposição barata. A forma como o elenco chega junto ao final do filme, cruzando suas narrativas antagonistas, garante um desfecho chocante e também gratificante. E a direção de arte faz com que isso se acentue, ao pontuar pela fotografia de Rachel Morrison (indicada ao Oscar) toda a desigualdade ali já desgastada, com a lama, com a chuva cinza e com decisões inesperadas. O que restará eternamente? As improváveis amizades que sempre serão premiadas. Elas podem construir nossa justiça social.