“A fome é o único desejo reincidente, pois a visão acaba, a audição acaba, o sexo acaba, o poder acaba – mas a fome continua”.
Através do personagem-narrador, Daniel (Otávio Muller), conhecemos o Clube do Picadinho – clube criado por ele e seus amigos, ainda na adolescência, para apreciar e celebrar os prazeres da comida.
Todos homens, ricos, herdeiros, que se perderam diante da monotonia da falta de preocupação. Com o passar do tempo, as reuniões se reduzem a vagos discursos políticos e disputas fálicas por poder – sendo a comida o elo de união dos amigos. Após a morte súbita de Ramos – o integrante mais antigo e por isso, tido como líder pelo grupo – o clube se dispersa e paralisa.
Um dia, Daniel conhece o misterioso Lucídio (Matheus Nachtergaele) em uma loja de vinhos e compartilha a história do clube com ele, que incentiva a retomada dos encontros e se oferece para comandar a cozinha. Daniel e os colegas ficam receosos quanto ao retorno, mas não resistem diante da sofisticação do cardápio oferecido, de forma que retomam as celebrações da gula, deslumbrados com o banquete, até que um deles morre pós jantar.
Os companheiros vão morrendo um a um, numa espécie de roleta russa, e mesmo assim, o grupo não consegue resistir à tentação do próximo jantar. Ao contrário, a iminência da morte aumenta o prazer pela comida. Nesse sentido, temos a frase que inicia o longa: “Todo desejo deseja a própria morte”.
Desta forma, o filme destaca o comportamento autofágico do ser humano em uma sociedade capitalista, representada pela busca do prazer através da comida. A comida centra os encontros que validam a existência patética de cada uma das personagens.
Angelo Defanti consegue manter a acidez característica da obra de Veríssimo através da dubiedade da narrativa, que é filtrada pelo relato de Daniel e permeada por percepções subjetivas e neuróticas da personagem, com certos momentos de instabilidade sobre os fatos, o que resulta em um combo perfeito entre um universo teatral e cinematográfico, fugindo da mesmice do relato meramente descritivo.
Os fatos são mostrados sob a perspectiva privilegiada de sua câmera ativa e, em contraponto a uma trama sobre excessos, Defanti é econômico e certeiro no aproveitamento de todos os ângulos e enquadramentos. Nesse sentido, mérito também para uma direção de arte extremamente íntegra e essencial para o sucesso deste retrato ácido e indigesto acerca da voracidade e toxicidade de uma sociedade patriarcal capitalista insaciável.
O roteiro é escrito e dirigido por Angelo Defanti e adaptado a partir do livro “O clube dos Anjos: Gula”, publicado em 1998, por Luis Fernando Veríssimo, uma história dinâmica que questiona a moralidade do ser humano através deste saboroso pecado capital – a Gula.
O Clube dos Anjos | Trailer Oficial | 03 de novembro nos cinemas
“O Clube dos Anjos”, de Angelo Defanti, é a adaptação do romance de Luis Fernando Verissimo que integra a série literária best-seller “Plenos Pecados”! Não perca, em 03 de novembro, exclusivamente nos cinemas! Sinopse: Nenhum deles pôde resistir.