Philippe LadvocatOnde: Cinemas
O sexto filme da série Pânico chegou aos cinemas em Março com uma campanha de marketing pesada, especialmente nas redes sociais, em uma tentativa de convencer a Geração Z que a telona pode ainda trazer algo tão assustador quanto os preços altos do supermercado e uma pandemia mundial que nos deixa trancados em casa. É o sexto capítulo em uma série de filmes de terror que renovou o gênero em 1996, quando explodiu em popularidade nas bilheterias.
Em Pânico 6, os novos personagens apresentados no anterior – as irmãs Sam e Tara e os casal de gêmeos Mindy e Chad – se vêem às voltas com um novo Ghostface determinado a matá-los, dessa vez em Nova York. É a segunda vez que a franquia se afasta da fictícia cidade de Woodsboro (em Pânico 3, a ação acontece em Hollywood), mas a “Big Apple” é pouco aproveitada como cenário, provavelmente porque o filme foi na verdade rodado em Montreal, no Canadá. Com a ajuda de um policial e de uma detetive do FBI (velha conhecida dos fãs dos filmes anteriores, mas não vou estragar a surpresa), eles tentam escapar ilesos com a ajuda de Gale Weathers (Courteney Cox), a jornalista de caráter duvidoso e única personagem presente em todos os Pânicos.
É extremamente difícil para uma série que chega a 6 filmes continuar inovando, mas os diretores conhecidos como Radio Silent conseguem atingir um equilíbrio entre surpresas – como revelar algo inesperado na sequência inicial – e a fórmula que mantém a popularidade da franquia, como as cenas de perseguição e a meta-linguagem, presente em todos eles e o grande trunfo do roteirista Kevin Williamson, escritor do primeiro, segundo e quarto filmes. Ao desenvolver os personagens introduzidos anteriormente, eles também preparam o terreno para continuações futuras e o engajamento das novas gerações que não cresceram com os originais. Pela primeira vez, Sidney Prescott, a protagonista anterior, não retorna (já que o estúdio não aceitou pagar o que a atriz, Neve Campbell, merecia), mas ela ainda assim ganha uma menção de final feliz e deixa de ser mal-aproveitada como aconteceu um pouco no filme anterior.
O novo elenco continua irregular e é um ponto fraco das novas continuações, mas os diretores foram mais sagazes dessa vez ao dividir o tempo de tela e história de forma mais justa, o que suaviza a inconsistência – o talento de Jenna Ortega (Tara) obviamente sobressai ao de Melissa Barrera (Sam), claramente apresentada como a protagonista do filme número 5. Da mesma forma, Jasmin Savoy Brown (Mindy) consegue fazer sua personagem muito mais divertida e interessante do que Mason Gooding (Chad), o típico atleta americano sem carisma mas que serve como par romântico e uma forma fácil de atrair a audiência jovem masculina que precisa de alguém para se identificar. Os personagens secondários também são pouco desenvolvidos mas cumprem suas funções dentro da história, sem sobressair nem incomodar. Só mereciam um pouco mais de tempo de tela para que a relevação final ficasse mais interessante e surpreendente.
Já o roteiro é extremamente ágil e faz bom proveito dos clichês do gênero, muitos deles criados justamente na trilogia original, além de trazer de volta a familiaridade para satisfazer o público em busca de nostalgia. Nesse sentido, ele é ainda melhor ao prestar uma homenagem às produções anteriores, usando mais uma vez da meta-linguagem e trazendo o universo estabelecido sem alienar os novos espectadores. A história utiliza os artifícios de sempre, mas é coerente (dentro do possível em um filme de terror) e não se leva a sério, deixando em dúvida se os velhos clichês apresentados são uma piada proposital ou não. A verdade é que não importa – nada ali é mais inovador, mas o público que segue acompanhando não busca necessariamente originalidade.
“Pânico 6” não é para todos, mas os fãs do subgênero chamado de slasher (filmes com assassinos, normalmente usando facas e objetos similares) recebem mais um presente em algo feito sob medida para as novas e as velhas gerações. Wes Craven, diretor e criador dos 4 primeiros filmes (e outros clássicos de terror) que morreu em 2015, trazia mais originalidade, inclusive em Pânico 4, que provavelmente foi um pouco precoce ao tentar reativar a franquia e acabou passando um pouco despercebido (apesar de ser muito superior ao anterior). Mas seu legado segue vivo e passa bem, ao contrário das dezenas de personagens brutalmente assassinados para deleite dos fãs de psicopatas cinematográficos.