Mötley Crüe e Def Leppard - São Paulo 07/03/23
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Lá na América Central, no Carnaval de 1987, numa cidade do interior do Panamá, eu era uma adolescente rebelde que ficou ouvindo uma fita cassete gravada do Álbum “Girls Girls Girls” do Mötley para espantar os batuques e festejos do Rei MOMO, ingenuamente não tinha captado que era essa exatamente a essência do carnaval e a loucura fora de controle de uma gangue de garotos americanos querendo viver uma vida em forma de festa eterna, sem ver as consequências de tanto sexo, depravação, destruição e decadência.

O mais louco disso tudo era que quanto mais fora da lei, quanto mais imoral, quanto mais perigoso ou à beira da morte, mais holofotes, mais sucesso e maior alcance a banda de músicos que formaram o Mötley Crüe, em Los Angeles, em 1980, atingiu e atingia.

O Crüe é uma banda de ex-viciados, colocados em liberdade condicional disfuncional, que criou as bases para toda a indústria do entretenimento adulto, pornô e autodestruição admissível e inadmissível, dentro de um corpo humano e como fonte de renda.

O Mötley Crüe ficou milionário e esqueceu do resto do planeta. Eles ficaram parados nos EUA durante décadas e, somente em 2008, descobriram que a América do Sul existia. E para desembarcar no Brasil demoraram mais 3 anos. O Mötley sempre foi pisoteado pela mídia especializada brasileira, que não dava a mínima para o Glam Hard Rock que mudava de logo e figurino a cada lançamento e que vendia 5 milhões de LPs nos EUA. E aqui foram apelidados de Farofa.

Eles viraram uma entidade perigosa de se levar ao redor do planeta e essa tática talvez tenha mantido a banda com seus membros originais vivos até hoje, coisa pouco comum nas bandas dos anos 90’s.

Porém o guitarrista Mick Mars teve que aposentar as chuteiras finalmente em 2022 e logo chamaram para substituto, na turnê mundial, o John5, um gênio dos estúdios e do som do Rob Zombie, Ozzy, Manson, Alice Cooper e muitos outros.

Caiu como uma luva John 5, mais jovem que o resto da banda. Ele injeta vida e energia com a sua performance, dando uma dinâmica avassaladora ao Crüe. Tommy Lee tocando a bateria com vontade, Nikki feliz no seu pódio de diretor artístico e tampando assim um pouco as faltas do vocalista Vince, que tinha backing vocals dançantes para distrair a atenção de seu público.

O Show do 7 de Março no Allianz Parque, em São Paulo, trouxe finalmente a “Stadium Tour”, a turnê mais rentável nos EUA em 2022 junto com Def Leppard. E muitos ficaram tristes que o Poison e a Joan Jett não embarcaram para a turnê latino-americana, mas nada impediu de colocarem os ingressos com preços caros e logo após o feriado do Carnaval. A “solução” foi liberar a venda 2×1 e colocar o palco no meio do estádio. Os cerca de 19 mil presentes, sabe-se lá quantos convidados, tiveram a experiência de uma noite de terça-feira na Sunset Strip dos sonhos e ainda com os gloriosos platinados Def Leppard para fechar a noite.

Toda a luxúria e o glamour das duas versões do Hard Rock que vendeu milhões nos anos 80 deleitou os presentes que puderam ir para casa às 23h, de metrô. Realmente abriram um vortex de fantasia que vale cada centavo pago por sonhadores como eu, que acreditamos que uma canção possa levar ao paraíso e apagar a dor. Você pode até ODIAR o Mötley Crüe, mas eles têm 42 anos fazendo exatamente isso: um circo de horrores para quem quer ver, pagar e ouvir. O Def Leppard era a moeda de ouro para validar e garantir mais gente. Hit após Hit, após dois setlists de Sucessos, “Foolin”, “Hysteria”, “Rock of Ages”, “Photograph”, “Home Sweet Home”, “Wild Side”, “Too Fast For Love”, “Dr Feelgood” e, para os incrédulos, o Mötley fez um medley com seus covers para Savoy Brown, Beatles e Sex Pistols junto a uma breve versão de Blitzkrieg Bop dos Ramones. Noite de Alegria (A maiúsculo) para iniciados e de inspiração para os novatos. Aguardemos as sementes florescerem!