Para onde vai a Marvel?

 

Nos últimos dois anos, desde o fim de Vingadores: Ultimato, a pergunta que os fãs sempre fizeram foi: para onde a Marvel e o MCU vão agora? Os dois principais heróis tiveram seus destinos fechados: um morto e outro foi viver no passado ao qual pertencia. Algumas pontas ficaram soltas, mas como recomeçar ou dar continuidade em uma saga encerrada ao longo de 11 anos e 22 filmes. A Saga do Infinito (fase 1, 2 e 3) foi um dos grandes marcos da história do cinema, seja por questões comerciais e os bilhões arrecadados, ou por questões artísticas como a criação de universo compartilhado e novos nomes surgindo tanto na direção, atuação e em quesitos técnicos.

É totalmente compreensível que a Fase 4 da Marvel recebesse um certo pessimismo após isso tudo. Além disso, o pontapé inicial foi feito de forma diferente do que o estúdio planejou: Guardiões da Galáxia Vol. 3 seria o marco inicial dessa jornada, algo que levaria parte da história para o espaço. Com o “cancelamento” de James Gunn nas redes, o filme foi posto de escanteio e adiado indefinidamente. Prontos para recomeçar, a Marvel, assim como o mundo todo, precisou mudar todo seu calendário devido ao Covid e a pandemia. Resultado: não houve lançamentos do MCU, nos cinemas, por dois anos: de julho de 2019 até julho de 2021.

Lançamentos inverteram as datas, o Disney Plus entrou no jogo e enfim a Fase 4 começou, nos cinemas, com Viúva Negra, uma história prequel, passada logo após os eventos de Capitão América: Guerra Civil. Críticas ok, público dividido. O jogo seguiu com Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis, filme que inseria um herói novo, coisa que não acontecia desde Capitã Marvel (2019). A mistura com o kung-fu fez sucesso com a maior parte do público e da crítica, mas ainda estava longe de uma unanimidade. No fim de 2021, a Marvel lançou Eternos, filme que trazia a vencedora do Oscar do mesmo ano, Chloe Zhao, na direção, personagens totalmente novos e uma história que misturava Celestiais, história da humanidade e sentimentos. Talvez um dos filmes mais divisivos da Marvel, com mais críticas negativas do que positivas e sem o sucesso comercial esperado.

Na TV, com o Disney Plus, a coisa foi um pouco diferente, porém não menos “problemática”. Começou com WandaVision, um sucesso de crítica, público e buzz na internet. A série gerou o meme pela espera da aparição de Mephisto e criava burburinho toda semana. As coisas seguiram com Falcão e o Soldado Invernal, que trouxe um pouco da estética que fez sucesso com os filmes dos Irmãos Russo e lançou Sam Wilson como o novo Capitão América. Loki foi outro sucesso na internet e gerava diversas teorias sobre quem era o controlador da TVA. Resultado final: a aparição d’Aquele que Permanece, interpretado por Jonathan Majors, ou uma das versões de Kangno Multiverso.

Vieram ainda, o grande sucesso de bilheteria Homem-Aranha: Sem Volta para Casa, que juntava o herói e suas versões dos outros filmes com o Doutor Estranho, depois Multiverso da Loucura, entrando de cabeça nesses diversos paralelos que existem. Fechando o primeiro semestre de 2022, veio Thor: Amor e Trovão, uma comédia romântica que passava longe do tom dos filmes que vieram anteriormente. Na TV, ainda rolou a animação What If…, Gavião Arqueiro, Cavaleiro da Lua e Miss Marvel.

Ou seja, entre 2021 e julho de 2022, o Universo Cinemático Marvel lançou 13 histórias, entre filmes e séries. É mais do que a metade de toda a Saga do Infinito, que durou mais de 10 anos.

Os erros e acertos, os tons diferentes e as diferentes vertentes dos filmes levaram diversos criadores de conteúdo a começar a duvidar do estúdio após a derrota de Thanos pelos Vingadores. “A Marvel está perdida”, “Para onde vai o MCU?”, “É o fim da Marvel nos cinemas?”, foram alguns dos questionamentos e profecias que arrancaram bilhões de cliques durante esse período.

Entretanto, o jogo mudou no dia 23 de julho de 2022, durante o painel do Marvel Studios, na San Diego Comic Com. Na verdade, nada mudou. Como diziam em Jurassic Park: encontraram um meio.

 

A Meca do Entretenimento

 

Ao subir no palco do Hall H da San Diego Comic Con, Kevin Feige, presidente do Marvel Studios, deixou claro que o MCU está pronto para ser (ou continuar sendo) a Meca do entretenimento pelos próximos anos.

O que se viu foi não só uma amostra do poder do estúdio em criar mais e mais conteúdo, como criar uma narrativa perfeita sobre os próximos lançamentos, ao ponto de elevar o patamar do “hype” em 60 minutos. Feige é uma versão de Hollywood do que Steve Jobs foi para a tecnologia. Sua figura, silhueta e vestimenta são marcas registradas. No palco, o chefão da Marvel mostra que não só entende o produto que está vendendo, como entende o que o público, mesmo aquele que andou o último ano de bico torcido, quer ver.

O painel da Marvel foi feito para, assim como nos grandes blockbusters ou filmes que ganham o coração do público, criar a expectativa, entregar a diversão e arrebatar o coração do público na sequência final.

 

Vamos lá:

 

A expectativa é toda criada em torno dos próximos lançamentos e da divisão das fases do grande arco que está sendo contado. Para isso, a Marvel já informa que no fim de 2022, a fase 4 que vem sendo tão criticada, termina com Pantera Negra: Wakanda Forever. Logo no início de 2023, com Homem Formiga e a Vespa: Quantumania, a Fase 5 já começa com a introdução do vilão Kang, que será o grande arquiteto por trás dessa nova saga e que começou a ser introduzido em Loki. Ou seja, Feige já diz para o público: venha em fevereiro para Homem Formiga que a construção de uma história maior que você tanto quer, está chegando.

O presidente do Marvel Studios mostrou o grande calendário da Fase 5, com datas para filmes até então só anunciados, como Blade, o novo Capitão América e o novo Thunderbolts. De cara,ainda apresenta uma nova série do Demolidor, personagem sucesso de público lá na Netflix e que agora estará no Disney Plus. Expectativa formada.

A diversão começa chamando ao palco os elencos e diretores dos lançamentos ainda desse ano e do próximo como She-Hulk, Quantumania e Guardiões da Galáxia Vol. 3. Com eles, trailers exclusivos que empolgam os que estão no Hall H e deixam o resto do público de fora, ansioso, buscando vídeos bootleg, textos e tweets com as descrições ou qualquer outro conteúdo que possa acalmar a curiosidade. Revelações de personagens novos como Cosmo e Modok, relatos do elenco sobre as produções, tudo isso vai aumentando o engajamento do público do meio para o fim do painel. Eis que a surpresa:

Feige anuncia que a Fase 6 da Marvel já está planejada e entrega não só a data de lançamento do filme do Quarteto Fantástico, anunciado em 2019, como mostra que em 2025 o público terá dois filmes dos Vingadores: Dinastia Kang (é aquele que tudo começou lá em Loki) e Guerras Secretas, um dos maiores arcos da Marvel nos quadrinhos.

Como de se esperado, a internet e os fãs explodiram com isso. Mas ainda não era o fim.

A cartada final, o golpe de mestre, começou com a fala de Feige: “falamos do presente, falamos do futuro e vamos falar do PRA SEMPRE (ou Forever, em inglês).

A introdução do elenco e do diretor de Pantera Negra: WakandaForever foi feita com cantores e músicos entoando uma das canções mais bonitas da trilha do primeiro filme e mesmo sem quase citar o nome de Chadwick Boseman, emocionou o público e os famosos com o carinho e saudade que todos sentem pelo eterno T’Challa. Além disso, foi apresentado ao público o novo personagem do filme, Namor, e seu intérprete Tenoch Huerta, que falou em espanhol e agradeceu ao público latino por estar ali. Ou seja (sim, de novo), a Marvel que já havia virado o jogo com questões de representatividade com Pantera Negra, em 2019, agora vai introduzir um novo rei que se liga diretamente aos povos ameríndios e oprimidos pelas políticas de imigração dos EUA.

Foi o movimento perfeito, o check, que entregou o checkmatecom o trailer de Pantera Negra: Wakanda Forever. Nem o maior hater do estúdio passou incólume.

Kevin Feige, a Marvel e a Disney apontaram nessa SDCC o caminho de peregrinação dos fãs, do tempo e do dinheiro deles. Enquanto a concorrência patina e não consegue utilizar os heróis mais famoso do mundo, o Superman, em um único novo projeto, o MCU nada de braçada e comprova que o plano pode ter sofrido com a pandemia, com fatores externos de alguns diretores e atores, mas que o objetivo é simples.

Ninguém vai entregar tanto conteúdo quanto a Marvel nos próximos anos. A empresa sabe trabalhar a indústria do hype, sabe fidelizar os fãs, angariar novos e vai atirar em todas as direções: filmes, séries, desenhos…

Para onde a Marvel vai agora? Nós mortais sabemos até o fim da Saga do Multiverso. Mas parece que Kevin Feige sabe, e bem, pelos próximos muitos anos.