VELOZES & FURIOSOS 9
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8.2

A pergunta que fica ao final do nono (sim, nono filme!) da saga Velozes e Furioso é: qual o limite para a Dominic Toretto e sua “família”? Porque há 20 anos, lá no lançamento do primeiro Velozes, em 2001, o máximo que os pilotos faziam era passar por baixo de caminhões de carga e pular por cima de uma linha de trem. E isso já era incrível.

Durante essas duas décadas, vimos a franquia sair dos filmes de racha, tuning (modificações e personalizações dos veículos) e roubos de aparelhos de DVD, para se tornar uma mistura de 007 com Missão Impossível, anabolizantes, cabeças raspadas, trilhas sonoras marcantes e muitos, mas muitos absurdos (e você vai ver muito dessa palavra aqui) em cenas de ação. Já vimos um cofre destruir metade da cidade do Rio de Janeiro ao ser puxado por dois carros, um avião gigante ser abatido por… carros, um veículo pulando entre três torres em Dubai e uma perseguição envolvendo um submarino nuclear!

Então vamos lá, depois de oito filmes, um spin-off e todos esse absurdos, haveria algo a mais para ser feito? A resposta vem logo no início de Velozes e Furiosos 9, com a já clássica (e que está no trailer) cena do carro-Tarzan. Essa é só a primeira das muitas cenas de ação que o filme traz, não deixando que o espectador pare para pensar que algumas (muitas) soluções do roteiro não fazem tanto sentido assim. Para dar continuidade à série, a trama volta algumas décadas para contar a história de Dominic (Vin Diesel), seu irmão Jakob (John Cena) e a morte do pai deles, elemento que Toretto conta para Brian (Paul Walker) lá no filme de 2001 e que foi determinante para a criação da persona de Dom.

Entretanto, há algo que incomoda nesse novo capítulo da saga. Por mais absurdos que os filmes anteriores parecessem, havia algo que nos fazia torcer para aqueles personagens saírem da situação de perigo. Que capotassem seus carros incríveis e saíssem andando, mancando ou, no mínimo, vivos. Aqui, esse senso de apreensão e fascinação pelas peripécias dá lugar para a risada. Sim, rimos do quão absurda é cada uma das cenas. Em certo ponto, o personagem de Tyrese Gibson questiona por que nada acontece com ele e os companheiros. “Nenhum arranhão”, ele diz. E é isso, o absurdo perde o propósito e vira piada do próprio roteiro.

Ah, mas a ação é ruim? Não. Nem um pouco. Justin Lin sabe o que faz. Ele dirigiu o bacana Desafio em Tóquio, reviveu a saga com Vin Diesel e seus amiguinhos no quarto filme e foi o responsável por Operação Rio e Velozes 6, dois dos melhores capítulos da franquia. O diretor sabe montar cenas empolgantes, situações que deixam o espectador grudado na tela e que são, principalmente, divertidas.

Quem realmente fez falta ao filme foi o companheiro de Lin desde o terceiro filme da franquia: o roteirista Chris Morgan. Foi ele quem deu o tom dos diálogos, da questão familiar e da pieguice que acompanha Velozes há tanto tempo. O novo filme perde um pouco do charme, daquela sensação de filme de ação bacana e inofensivo que os anteriores tinham. Apenas as cenas de Tyrese e Chris “Ludacris” carregam esse sentimento. Além disso, é notável que a contraparte do personagem de Paul Walker faz falta ao desenvolvimento do Toretto de Vin Diesel. Se isso já foi sentido no filme anterior, aqui fica ainda mais evidente.

Velozes e Furiosos 9 é um filme divertido, carismático e, mais uma vez, absurdo. Falta uma aparada nas arestas e um carinho mínimo com a trama. Quem acompanha até aqui gosta dos personagens, dos carros, da ação e sempre espera pela surpresa, pela novidade. Entretanto, no final das contas, a gente ainda quer acompanhar aqueles caras que eram os ladrões, mudaram para anti-heróis e que viraram uma equipe que todo mundo corre atrás quando o mundo precisa de ajuda. Mas eles não precisam virar deuses imortais para isso.

Se os próximos dois filmes serão os últimos e vão encerrar um arco de 11 produções dessa trama principal, precisamos nos importar com toda a gangue. Vingadores nos provou isso com Guerra Infinita e Ultimato. Charlize Theron pode ser o Thanos de Dom e sua família, mas a gente precisa se importar quando chegar a hora do “Vingadores, Avante!” ou do “Eu sou o Homem de Ferro” no final das contas. Senão, tudo não passa de uma brincadeira de carrinho de fricção.