Onde ver: Cinemas
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5.8

Recentemente descoberta como uma das novas minas de ouro da Disney, as versões “live action” dos desenhos animados clássicos normalmente têm dois objetivos: apresentar uma história de sucesso clássicas às novas gerações e ativar a nostalgia daqueles que cresceram com o original. Enquanto alguns dos filmes recentes reinventaram o roteiro antigo e apresentaram algo original e interessante, esse não é o caso de Aladdin, que entra na categoria das refilmagens quase desnecessárias.

 

A escolha da direção foi um tanto bizarra: Guy Ritchie, normalmente acostumado a filmes violentos ou brutos, provavelmente foi o nome escolhido para dar um senso maior de aventura à história do menino de rua que conquista o coração da princesa Jasmin, assim como transformou o clássico detetive Sherlock Holmes em um filme cheio de ação na pele de Robert Downey Jr. Mas o resultado foi um trabalho preguiçoso com algumas cenas bem coreografadas mas soluções simplistas para acelerar o ritmo das sequências de aventura. A falta de paixão pelo o que estava fazendo também fica evidente no elenco e em suas atuações irregulares e sem emoção, inclusive no casal de protagonistas, que deixa totalmente a desejar e realizam atuações entediantes. Nem mesmo a rendição da música mais esperada, A Whole New World, consegue evitar que a mente desvie para outro lugar – mais provavelmente a cena criada há décadas pelos animadores espetaculares do estúdio.

 

A grande expectativa era, claro, o maior nome do elenco: Will Smith como o Gênio da lâmpada. O ator atraiu críticas já quando o primeiro trailer apareceu, quando Smith aparecia pela primeira vez na pele azul do personagem – mas o problema está longe de ser o design visual do Gênio. O ator, muito conhecido pela personalidade simpática e amigável, não consegue transmitir nada de especial ao Gênio, que fica muito preso aos mesmos momentos do desenho original, o que não dá a liberdade necessária que Smith precisaria para fazer sua própria versão do personagem. A impressão é que ele não está se divertido nem um pouco ali e apenas executando mecanicamente um trabalho. Seria injusto compará-lo a Robbin Williams, que com seu trabalho de voz transformou o Gênio em um dos personagens mais memoráveis e queridos de todos os tempos, mas se colocamos essa versão do personagem ao lado do trabalho criado pelos atores da versão teatral de Aladdin na Broadway e no West End de Londres, Will Smith sai em extrema desvantagem e fica claro que ele não contribuiu em nada para dar originalidade a um personagem tão conhecido.

 

Aliás, é nas diferenças entre o desenho original e a versão com atores de verdade que o filme poderia ter feito sua marca: a criada Dalia (Nasim Pedrad), personagem que não existe na animação, rende os melhores momentos humorísticos do filme mas fica renegada a uma posição excessivamente coadjuvante. A música original incorporada nessa versão, em uma clara tentativa de dar mais empoderamento feminino à princesa Jasmin, parece uma canção tirada de High School Musical. E o príncipe Anders, pouco lembrado pelos fãs do filme original, virou um personagem hilariante na composição do ator Billy Magnussen, mas aparece em apenas uma cena completa.

 

Mas a grande decepção não é nem o desânimo de Will Smith e nem mesmo a falta de desenvolvimento do que o filme trouxe de novo. Quem é fã de Disney sabe a importância que os vilões têm no universo do estúdio, quase tanto quanto as princesas e heróis (apesar do cuidado que o estúdio tem de não transformá-los em ídolos). Com Jafar, não foi diferente: no lançamento da animação em 1992, o trabalho de voz do ator Jonathan Freeman e o design do ambicioso personagem criaram um vilão inescrupuloso e memorável, que ganhou sua própria sequência em DVD alguns anos depois. Mas em 2019, o Jafar do ator Marwan Kenzari é totalmente esquecível e coadjuvante, sem a voz ou a presença que o malvado original apresentava na tela. Um resultado broxante para quem é fã da inesquecível produção dos anos 90 que ajudou a trazer de volta o fascínio da marca Disney – tanto para crianças quanto para adultos.

 

A versão atualizada de Aladdin, que liderou as bilheterias norte-americanas na estreia, como esperado, cumpre o papel de apresentar a fábula aos novos espectadores, diverte e funciona como passatempo. Mas a verdade é que ela só aumenta a vontade de rever o desenho original e lembrar o porquê de ser um dos maiores clássicos de animação já produzidos.