ASTEROID CITY, de Wes Anderson
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8.8

O que é a vida e quem somos nós perante o universo?

Em Asteroid City, Wes Anderson convida o espectador a essas e outras reflexões existencialistas, tudo com seu jeito personalístico de contar histórias.

Todos os elementos que compõem a estética cinematográfica característica e querida do diretor estão presentes – a simetria geométrica de seus enquadramentos, a paleta de cores, o uso (até excessivo) do travelling (câmera fixa que é movimentada através de trilhos para percorrer um ambiente ou acompanhar um personagem), a nostalgia, a inexpressividade das atuações, em contraponto com a excentricidade do texto e das personagens, enfim, Anderson não deixa a desejar para os fãs de seu trabalho.

Aliás, a estética cinematográfica peculiar do diretor já se tornou inclusive “meme afetivo” dos fãs, muitas vezes sobressaindo à sua obra.

Particular e pessoalmente, acredito que um dos pontos mais pulsantes da filmografia de Wes Anderson, à parte de seu talento nato cinematográfico, é o paradoxo da construção de suas personagens. São personagens excêntricas em seu modo de existir, cuja impassibilidade se contrapõe com questões existencialistas complexas, representadas através de atuações que alternam entre a apatia e o farsesco.

Em Asteroid City, o diretor resolve avançar em sua proposta de quebra narrativa, através de uma história que se divide em camadas coexistentes e meticulosamente planejadas.

De prima, o ator Bryan Cranston quebra a quarta parede e aparece como o apresentador que nos fala diretamente e com o qual acordamos o “organograma narrativo”: tudo o que será mostrado gira em torno de uma peça teatral – chamada Asteroid City – a qual acompanharemos os bastidores de sua criação pelo roteirista Conrad Earp (Edward Norton), bem como sua execução propriamente dita, guiada pela história de Augie,  um pai recém-viúvo (Jason Schwartzman, em um de seus melhores papéis) que leva seu filho mais velho e suas três filhas a uma competição de gênios juvenis e invenções científicas. Seu filho mais velho está competindo.

A competição ocorre na fantasiosa Asteroid City – uma minúscula cidade que vive do turismo esporádico de sua grande atração – uma cratera de meteoro.

Passamos então a transitar entre as pseudo-narrativas, que funcionam de forma paralela e complementar, oscilando entre o que é ‘a vida real’ e o ‘faz de conta’, com constantes interrupções meta-linguísticas, a exemplo de Jason Schwartzman se despindo do papel de Augie para assumir o papel do ator que interpreta Augie e questionar as atitudes de seu personagem junto ao autor da peça para, logo em seguida, recolocar a barba e reassumir seu papel de Augie.

Nesse inteirim, diversas participações especiais de um elenco pra lá de estrelado (Seu Jorge, Tom Hanks, Tilda Swinton, Scarlett Johansson, Jeffrey Wright, Adrien Brody, Liev Schreiber, Maya Hawke, Steve Carell, Matt Dillon, Willem Dafoe, Sophia Lillis, Ethan Lee, Jeff Goldblum, Margot Robbie e outros) vão acontecendo, tudo sob o manto de diversas referências aos anos 50 – ao glamour do mundo das artes, através de elementos noir, que se contrapõem com as cores em tons pastéis – representativas da tensão causada pela guerra fria e pelos constantes testes de bombas atômicas. Curioso que, apesar da estrutura ser previamente informada e logo estabelecida, podendo até mesmo se tornar cansativa em alguns momentos, diante de tantas idas e vindas, ainda assim, Wes Anderson consegue nos manter interessados.

Pouquíssimos diretores possuem criatividade, organização, meticulosidade e talento, MUITO TALENTO, para fazer um mix cinematográfico bem sucedido. Asteroid City é um filme complexo, criativo, pretensioso e com certeza, divisor de opiniões, bem ao estilo Wes Anderson que a gente gosta.

 

Asteroid City | Trailer 1 (Universal Pictures) HD

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