Convenção das Bruxas (2020), de Robert Zemeckis
6.5Pontuação geral
Votação do leitor 2 Votos
7.4

Clássico do cinema que divertia e aterrorizava crianças nos anos 90 (principalmente quando era exibido na TV aberta), o filme Convenção das Bruxas comemora 30 anos com o lançamento de uma nova versão nas mãos do excelente diretor Robert Zemeckis, responsável pela trilogia do De Volta Para o Futuro e outros grande sucessos como Forrest Gump e Náufrago. Mas, infelizmente, o novo lançamento da Warner Bros fica muito aquém de seus trabalhos mais marcantes e da versão original da aventura.

Baseado no livro do inglês Roald Dahl, o novo “The Witches” (no original) prometia ser mais fiel ao material escrito e mais assustador que o primeiro filme, rejeitado pelo escritor por ter mudado radicalmente o final da história. Mas não é exatamente isso que acontece, já que o filme repete o erro clássico de priorizar efeitos especiais ao invés da construção do enredo e do clima ideais para aterrorizar seus espectadores.

A decepção começa pelo elenco – a excelente ideia de colocar protagonistas negros se perdeu pelo fato de Chris Rock não funcionar bem como narrador e Octavia Spencer, uma atriz extremamente talentosa, não conseguir encarnar a mistura de doçura e rigidez necessária para o papel. Com tantas referências ao original, é impossível separar os dois – e o fato é que fica claro que a frieza da versão de 1990 acabou se tornando uma qualidade dela. Ao tentar deixar o filme mais caloroso e sensível, perde-se justamente os momentos mais marcantes do anterior.

Outra oportunidade perdida é a de aproveitar a mudança dos personagens principais para discutir o que aconteceria com uma hóspede negra em um hotel de luxo no sul dos Estados Unidos no começo dos anos 60. O filme passa longe disso, apenas trazendo personagens ingleses extremamente caricatos e o fato de os negros ficarem renegados à posição de carregadores de mala de uma maneira tão discreta que nem pode ser considerada uma crítica.

Por outro lado, o filme consegue prender a atenção e tem momentos bem divertidos, especialmente para crianças. As referências ao original também funcionam: diversas cenas serão reconhecidas pelos fãs do primeiro filme e divertem a nova geração para quem o filme se dirige. Os efeitos especiais, apesar de usarem computação gráfica, funcionam bem para a maioria das cenas – com exceção de certas sequências envolvendo apenas os ratinhos, que dão a impressão de que estamos assistindo a Ratatouille.

O roteiro, escrito pelo maravilhoso Guillermo Del Toro (responsável pelo inesquecível e assustador O Labirinto do Fauno) e o adorado Kenya Barris (criador da série Blackish) também é um ponto forte, trazendo bons elementos, encontrando soluções interessantes para o enredo e respeitando mais o material original.

Paradoxalmente, o grande ponto forte e o maior ponto fraco do filme parecem ser o mesmo: a grande bruxa. Anna Hathaway, atriz competente mas irritante, tem ótimos momentos e convence como vilã infantil. Mas fica bem longe da inspiradíssima Angelica Houston do original, que rouba todas as cenas em que aparece. Além disso, os novos elementos físicos da bruxa – boca enorme com tentáculos e garras no lugar das mãos – não chegam nem aos pés do choque sofrido há 30 anos com a perfeição da maquiagem e prótese utilizadas para criar pesadelos e cenas que os espectadores carregam na memória por décadas ao ver como a Grande Bruxa era de verdade, por baixo da máscara e peruca.

Refazer um filme amado por uma geração não é tarefa fácil. Ignorar a primeira versão e se prender ao livro costuma ser uma boa ideia para conquistar uma nova legião de fãs e tornar a obra mais autoral. Mas ao ficar preso às referências e se tornar excessivamente infantilizado, o novo Convenção das Bruxas repete o problema tão comum dos remakes: deixa o público mais saudosista do que satisfeito.

Onde assistir: Cinemas (previsto para Novembro no Brasil)