“Viúva Negra” (2021), de Cate Shortland
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A última vez que vimos Natasha Romanoff, no Universo Cinematográfico da Marvel, ela estava estirada no chão de um precipício no planeta Vormir, em “Vingadores: Ultimato”. E a verdade é que a morte da vingadora chocou até mais do que a de Tony Stark, que, bem ou mal, já era esperada. A cena revoltou alguns fãs, que diziam que o fim deveria ser do Gavião Arqueiro e não de uma das personagens femininas mais importantes do MCU.

A revolta foi ainda maior porque Natasha nunca teve seu próprio filme e a jornada da personagem sempre esteve à margem dos outros Vingadores. A verdade é que a Viúva Negra já deveria ter ganhado um filme antes, porém é sabido que o ex-CEO da Marvel Entertainment, Ike Perlmutter, não concordava com filmes e conteúdos voltados para personagens femininos e de minorias. Tanto que, só após o afastamento de Perlmutter e a ascensão ainda maior de Kevin Feige como o todo poderoso da Marvel, filmes como Pantera Negra e Capitã Marvel puderam acontecer.

E agora, dois anos após Ultimato, finalmente temos a estreia de Viúva Negra, filme solo da personagem, mostrando o que aconteceu com Natasha Romanoff durante os eventos de “Capitão América: Guerra Civil” e “Vingadores: Guerra Infinita”, preenchendo uma lacuna aberta na história da personagem. Depois da batalha no aeroporto em Guerra Civil, a personagem não aparece mais e já a encontramos junto com Steve Rogers e Sam Wilson em Guerra Infinita.

Na trama do filme, após fugir do General Ross (William Hurt), Natasha se isola e acaba envolvida em uma trama para libertar outras agentes, que, assim como ela, também foram treinadas na Rússia para virarem espiãs. Entre elas, está Yelena Belova (Florence Pugh), irmã de Natasha. Para a missão, Romanoff terá que reunir sua família, desfeita quando ainda era adolescente. Nas figuras paternas: Alexei (David Harbour), o Guardião Vermelho, uma espécie de Capitão América soviético, e Melina (Rachel Weisz), também uma espiã treinada pela “Sala Vermelha”.

E é aí que a Marvel acerta mais uma vez. A jornada de Natasha e Yelena é o simples conflito familiar mal resolvido, comum no cinema hollywoodiano, mas que aqui, se mistura em uma trama que lembra os filmes da franquia Bourne, e tem no carisma de Scarlett Johansson e Florence Pugh sua maior força. A interação das duas é tão natural que nem parece ser a primeira vez em que as personagens estão juntas. E se o talento de Johansson já é mais do que reconhecido (indicada ao Oscar duas vezes em 2020), Pugh brilha como Yelena, pavimentando de forma espetacular sua entrada no MCU como uma nova Viúva Negra.

Se a trama é uma grande homenagem ao legado de Natasha, assim como em todos os filmes da produtora, é preciso ter um porquê ou algo que o ligue aos outros filmes. E aqui é a passagem de bastão de Natasha para Yelena. É um movimento que já estamos vendo em todo o universo Marvel: Sam Wilson como o novo Capitão América, Wanda assumindo uma posição maior, assim como deve acontecer com Doutor Estranho, Kate Bishop virá na série do Gavião Arqueiro, e por aí vai. E, se em Viúva Negra, por vezes parece que o filme dá mais atenção para Yelena, essa sensação está diretamente ligada ao fato de a atuação de Florence Pugh ser hipnotizante. Mas logo que Scarlett volta para a cena, percebemos a força da sua personagem.

E o filme, dirigido (e muito bem) por Cate Shortland, do ótimo “Lore”, ainda tem espaço para discutir questões como abusos físicos e psicológicos sofridos por mulheres, mostrando o controle exercido pelo vilão Dreykov (Ray Winstone) sobre as agentes da “Sala Vermelha”. Por mais que o personagem seja o estereótipo do soviético, que já vimos em praticamente metade dos filmes de James Bond, a cena da discussão entre Dreykov e Romanoff é interessante, principalmente em sua solução, referência direta ao que Natasha já havia feito no primeiro filme dos Vingadores.

Os pontos fracos do filme ficam por conta da grandiosa cena de ação final e do Treinador. O final do filme torna Natasha a Vingadora que ela não é. Voando pelos ares, aterrissando em placas de metal como se tivesse superpoderes contra as leis da gravidade e fugindo completamente do tom da ação que havia sido construída até aquele ponto. Já o Treinador, acaba sendo mais um vilão do MCU que não é bem explorado. Sua habilidade de imitar os movimentos dos adversários é interessante, mas não ganha mais que um ou dois momentos de atenção. A verdade é que a Marvel acertou (mesmo) poucas vezes em seus vilões. Os olhos da produtora parecem se interessar muito mais pelos seus heróis.

E Natasha Romanoff, e principalmente Scarlett Johansson, mereciam o carinho que esse filme passa para a heroína. É uma aventura fechada, um retrato de um momento, de um apreço pela família, que torna o ato de sacrifício de Natasha em “Vingadores: Ultimato” ainda maior e mais bonito. A Viúva Negra esteve presente no MCU desde Homem de Ferro 2, descobriu o plano de Loki em Vingadores 1, ajudou a derrubar a Hydra em Soldado Invernal, ajudou Steve Rogers a fugir em Guerra Civil e a liderar em Guerra Infinita e deu uma das Joias do Infinito para derrotar Thanos em Ultimato.

Não é uma jornada à toa. Natasha não foi uma simples coadjuvante. E Viúva Negra faz jus a isso. No final, fica a saudade que os fãs do MCU sentirão da personagem, mas fica também o legado da maior Vingadora do universo Marvel até aqui.