Onde: cinemas
O filme, que marca do retorno do escritor e diretor Atom Egoyan (Exótica, 1994 e O Doce Amanhã, 1997), se apoia quase que integralmente na impecável e complexa performance do veterano ator britânico David Thewlis. Ele faz aqui o peculiar, imprevisível, intimidador e carinhoso Jim, um ex-dono de restaurante que vira vigilante sanitário após a morte da esposa e a prisão de sua filha: uma musicista que é falsamente acusada de abuso sexual, mas acata a denúncia como forma de autopunição expurgatória de um trauma de sua infância.
E então temos uma história de culpa, traumas e vingança, desenvolvida lentamente por meio de uma atmosfera delicada e introspectiva, característica das obras do diretor. Por meio de uma história não linear, com muitos flashbacks (inclusive flashbacks dentro de flashbacks) – outra característica recorrente das obras de Egoyan – acessamos diversos pontos de vista sobre o mesmo fato, o que amplia o arco das personagens. Mas inibe a participação do espectador que, em vez de permanecer em constante posição de decifração, obtém de forma mastigada as respostas necessárias para facilmente desvendar a trama, tornando o filme previsível.
Desta forma, o clímax do longa é a riqueza de camadas da personagem interpretada por David Thewlis, que oscila na dúbia posição de pai devoto e disposto a ir às últimas consequências para garantir a defesa e integridade – física, moral e psicológica – de sua filha e a posição de causador (in)direto de diversos traumas na vida da mesma.