Avaliação Hybrido
8.5Nota do autor
Votação do leitor 3 Votos
9.0

A abordagem que “O Último Duelo” (2021) traz sobre um fato real, ao estipular três visões sobre o mesmo incidente, sendo a única feminina como a real, é o grande marketing em cima do filme, ainda mais se passando dentro do gênero medieval, onde costuma se prevalecer a violência, ação e costumes predominantemente machistas.

Porém, ao colocar a mulher como sua real protagonista dentro de um enredo de disputa entre dois escudeiros envolvendo o nome e “honra” de ambos (e que pouco tem a ver com a personagem principal, mas seus efeitos caem todos nas costas dela de uma forma ou de outra), Ridley Scott monta sua cosmologia crítica daqueles tempos, daquela sociedade, que em muitos fatores se faz presente até hoje em pleno século XXI.

Nada novo na filmografia de um cineasta com um filme como “Thelma e Louise” (1991), onde naquela época já levantava o tema da liberdade feminina no eixo central de um road movie, ou mesmo como “Alien – O Oitavo Passageiro” (1979) onde ele transforma a tradicional “final girl” dos slasher movies em protagonista de seu próprio destino contra o alien num contexto sci-fi. Porém aqui Scott molda completamente sua protagonista ao debate atual, e conta com o roteiro como grande aliado nesse caminho, trazendo um ótimo trabalho depois de algum tempo.

A narrativa repartida que nos lembra o clássico “Rashomon” (1950) aqui é um pouco mais direta na abordagem de cada ponto de vista envolvido, e a visão geral de cada um dos atores no imaginário e em papéis mais famosos também contribui para as dualidades de cada visão, mesmo com o diretor sendo bem claro sobre sua crítica àquela sociedade predominantemente dominada por homens, gerida por homens e que apenas considera os homens como seres humanos, e as mulheres como suas meras propriedades.

Até o espectador mais alienado consegue conceber o quanto o debate naquele contexto medieval ainda é atual, e ajuda a construir um raciocínio lógico porque situações como o feminicídio ainda são pouco confrontadas dados seus números. Toda a encenação proposta por Scott é bem crua sobre o que era uma sociedade anglicana, regida pela violência, e tantos suas qualidades clássicas enquanto realizador (cenas de batalhas medievais) como as menos reconhecidas (trabalho com atores) são primorosas e contribuem bastante com seu painel de conjuntura através da linguagem cinematográfica.