Onde: MUBI
No premiado Memoria, Jéssica (Tilda Swinton) é uma botânica que viaja à Colômbia para cuidar de sua irmã doente. Em sua estada, ela passa a ouvir repetidamente um som que a vai deixando cada vez mais perturbada. O filme é dirigido pelo tailandês Apichatpong Weerasethakul, que tem em seu histórico filmes contemplativos, nos quais geralmente acompanhamos uma história-base, uma proposta inicial, que se desenvolve e se desmembra para algo mais fantasioso e experimental.
Jéssica é uma personagem complexa e ambígua. Ao mesmo tempo em que está presente fisicamente nas situações e acontecimentos, quase sempre não o está mentalmente, o que faz com que ela transite pela narrativa quase como se estivesse sufocada em si mesma, tateando razões para seguir caminhando: um barulho, uma música, um acidente de trânsito, ou alguma reação de outra pessoa.
O filme é um slow-movie, no qual nada é o que se parece e quase tudo é uma metáfora para a força motora da personagem. Ela e o ambiente se mesclam para o desenvolvimento da narrativa, por meio de situações que se estabelecem com singelos pontos de quebra e/ou ritmo.
O diretor propõe uma experiência sensorial, por meio da escolha de longos e estáticos planos, em um filme em que os sons são extremamente significativos, o que obriga o espectador a se inserir no ambiente e ampliar a consciência e percepção de seus sentidos.
Em contraponto a dias fugazes como os que vivemos, nos quais produtividade é a palavra de ordem e o atalho para o gozo, a meta final, Memoria é um filme que demanda entrega e disponibilidade por parte do espectador. Como se fizéssemos um pacto de simplesmente não pensar em nada ou deixar fluir todo e qualquer pensamento que vier à tona. Um acordo de estar presente. Sentir.
Caso aceite embarcar nessa proposta, com certeza terá uma experiência enriquecedora.