Paul Thomas Anderson em sua filmografia já filmou o amor por diversas óticas, seja através daqueles invisíveis perante os parâmetros da sociedade (“Embriagado de Amor”), seja pela exploração dos limites entre o que é amor e obsessão (“Trama Fantasma”), ou pela investigação mirabolante da referência do que é amor e do que não pode mais voltar atrás (“Vício Inerente”).
Aqui em “Licorice Pizza” Anderson aposta na nostalgia do que era os EUA em sua juventude, e ampara uma história de amor em cima das expectativas/realidades em que um rapaz e uma jovem possuem num país em ebulição política e social, abarcando empreendedorismo, representatividade e gerenciamento dos sentimentos daquilo que cada um é e busca ser.
A dupla Alana Haim e Cooper Hoffman defende muito bem essa dupla protagonista, usando muito bem a simpatia que emana de personagens ricos com rostos pouco conhecidos do grande público do cinema, e Anderson explora muito bem esse amor ingênuo e bonito que cresce à frente dos nossos olhos com reviravoltas clássicas que o destino sempre reserva aos amantes.
Como um clássico “filme-painel” de uma época onde uma história de amor é apenas nosso fio condutor para conhecer melhor um recorte específico de uma América que amolda sua sociedade capitalista à realidade de crise política e econômica constante, Paul Thomas Anderson realiza verdadeiras crônicas a cada ato onde personagens específicos.
Seja o empreendedor do restaurante que se apropria do fetiche à cultura asiática emanada da curiosidade do período de guerra e se comunica numa metáfora rica do clichê da dublagem na comunicação entre ele e suas “esposas” japonesas, o furor passivo agressivo da celebridade em meio à crise de combustíveis, a perpetuação da indústria de exploração infantil na TV através do negócio da nostalgia, ou o culto a egolatria dos astros ou políticos e suas excentricidades.
O que não faltam são pedaços de um passado aqui e ali que Paul Thomas Anderson aborda ao longo de quase três horas de filme que são uma verdadeira experiência para quem estiver aberto a absorver e viver aquele mundo. E são poucos os cineastas de hoje que conseguem construir cosmologias bem específicas como PTA.