Vindo da mostra oficial Un certain Regard do último Festival de Cannes, “Return to Seoul” já nos conecta ao mote central do filme nos seus minutos iniciais, quando a protagonista Freddie se conecta com uma coreana através da música que esta ouve em seu headphone. Ao longo do filme, a música trará outros importantes links com a busca involuntária desta protagonista com as suas raízes ancestrais, já que foi adotada ainda bebê por um casal francès.
Chou usa o choque de costumes de Freddie contra os costumes sociais da Coréia do Sul para explorar um certo posicionamento do tradicionalismo machista coreano na atualidade, e o como o verniz da independência desta mesma protagonista esconde uma profunda tristeza causada pela superficialidade de suas relações estabelecidas, buscando seu real lugar no mundo.
As elipses na segunda metade do filme demonstram graus de maturidade sendo atingidos por Freddie acerca seu pai e sua família, e a constante busca por ser reconhecida pela mãe biológica através de tentativas de contatos via orfanato coreano. A jornada se dá pelo aprendizado de sua própria antropologia através de pontes familiares descobertas, que aos poucos vão se fortalecendo com o tempo, mesmo que de forma desajeitada.
A força da música nessa jornada mostra seu peso ao abrir e fechar o filme em estágios diferentes da protagonista: se no início ela é o mote de conexão, por outro no final ela é uma forma de reconhecimento de que enfim nasceu algo genuíno, mesmo que triste, em cima da música composta para ela pelo pai, tocada num piano de hotel afastado.