Onde: Paramount Plus
Chega ao final a 5ª Temporada de uma das séries que já foi – pra mim – a sensação do momento, como algumas vezes a chamei de “a série do ano”, mas que ainda não sabe a hora de encontrar sua conclusão. Falta aqui o momento de se estruturar e tentar achar aqui um desfecho ainda – de alguma forma – redondo. E isso é possível. Basta concluir o belíssimo final da 4ª Temporada, não abrindo ramos infindáveis que apenas afastariam seu fiel público. Ali naqueles últimos três episódios do ano passado, chegamos a um átimo de êxtase por parte do público com aquela tal vingança belissimamente arquitetada e muito bem dirigida pela própria estrela Elizabeth Moss. A série se encaminhava para tanto. E agora deve se virar para retomar aquele momento e finalizar a única parte do roteiro que talvez traga um grande interesse ao show de Bruce Miller: Como resgatar a menina Hannah (Jordana Blake)? Como chegar ao local onde Hannah está e assim terminar o show.
A menina está inserida numa família que lembra aquilo que os Waterford eram. Um bloco familiar intransponível em que aquelas pessoas estão eivadas de crenças religiosas absurdas e de paixão pelo militarismo torpe de Gilead. Valeria um destaque maior a esta perigosa família. E conhecemos aqui o chefe dessa unidade, um sujeito que está pronto para não permitir que June chegue perto da pequena Hannah. A série reserva uma curiosidade à menina, algo que emociona o espectador e – como única chama fortemente acesa da produção – consegue cumprir seu objetivo. Se havia dúvida sobre os sentimentos de Hannah, vemos que não há mais. E daqui vem a força e o obstáculo para que a obra brilhe no ano que vem e se encerre.
Vale lembrar agora que a onda tirânica daquela Gilead que conhecemos bem vai se espalhando, encantando mentes acéfalas e ganhando palco, vai ganhando força e vai encontrando adeptos por todo o planeta, mas principalmente na nação vizinha – antes intocável, paladina da moral e dos bons costumes – o Canadá. País este que dava asilo e servia de berço acolhedor para aqueles que fugiam do terror daquela sociedade altamente teocrática e militarizada. Bruce Miller, Elizabeth Moss e companhia trazem mais uma vez o alerta do horror que se avizinha em nosso planeta. Mesmo que pequeno, ele encontra terreno. Emula-se fortemente a necessidade da volta do diálogo, coisa inexistente ali nesta distopia quase que atual, né, pessoal?
A onda de ódio – comum de maneira ululante no planeta hoje – ela se debanda e chega ao Canadá. Sim, Bruce Miller não poupou o país vizinho. Ele o tinha como uma espécie de lar imaculado, mas a escalada de violência era tamanha que foi impossível salvar aquele local. Vale dizer que ali há uma espécie de abrigo aos refugiados do horror de Gilead.
E a trama?
Agora descobrimos Serena Joy (Yvonne Strahovski) grávida e seguimos a personagem dissimulada numa ligeira e interessante inversão de papel com o que ela tanto pregou durante as primeiras temporadas. Será que Gilead quer seu bebê? Ela aguentaria? E, desta vez, ela segue sozinha. No entanto, nem pode. Ótimo ponto a série experimentar e medir esta novidade sobre Serena. Mas forçar uma relação muito amistosa entre June e Serena – como se flertou – não combina com a premissa da personagem fanática dada à excelente Strahovski.
Outro ponto fastidioso que preocupa o show é tentar mudar abruptamente – e sem base no roteiro para tanto – a malvada Tia Lydia (Ann Dowd). Em nada esta Lydia da 5ª temporada lembra a Tia do livro original de Margaret Atwood. Principalmente no que tange sua relação com a formidável e misteriosa Janine, destaque altíssimo para uma revoltada Madeline Brewer. Tia Lydia tem alguma expiação posta à prova, o que faz ela ser praticamente um anjo protetor de Janine. Seria algum tipo de remissão e penitência num local em que sempre observamos não deixar brechas para algo desta magnitude?
Destaque mesmo para quando Elizabeth Moss dirige a série. Quando a protagonista comanda o show, sabemos de fato que ela consegue elevar o nível do mistério, do suspense, criando uma espécie de caos novo. E ela tem sucesso ao ser intensa com o que a produção cobra e ainda surgir com um fato novo que pode satisfatoriamente nos segurar atentos para o derradeiro ano. Mesm que seja pouco. A série construiu – de forma surpreendente – um novo inimigo para June.
Mesmo sendo lancinantes com a tentativa criativa de alguns rumos, como fizeram com o comandante Putnan (Stephen Kunken), faltou coragem aos realizadores e diretores desta vez. Tivemos de novo apenas três excelentes episódios, de resto, o texto tenta seguir bem, mas, como dito, não sabe quando parar. Fatalmente no ano que vem descobriremos. E daí sim, o conteúdo exposto nos tais ótimos episódios, o arco de Luke e o destino de Hannah devem ter força para manter o show vibrando. Conto muito com a direção de Elizabeth Moss. Quando ela pega a câmera, é quem de fato flerta melhor com os horrores que Gilead sempre teve a exibir. Novas vítimas, novas relações e intensas responsabilidades. Que venha o 6ª ano, o último de um dos programas mais polêmicos dos últimos anos.